Ode ao Justo Juiz

         Ser juiz penal é desigualar o igualável ao modo de Ulpiano, é descer do trono vitalício, inamovível e de honrarias e tentar compreender as misérias humanas;

         Ser juiz penal é cumprir ditames divinos como separar o joio do trigo e ter a exata percepção que aquelas gramíneas venenosas muitas das vezes se disfarçam nestas vitais e sustentadoras;

         Ser juiz penal é se afastar das retóricas políticas e tendenciosas e ao seu próprio discernimento e alvitre aplicar o justo entendimento;

         Ser juiz penal é ser o esmeril da conduta humana e a lâmina afiada da altiva justiça, mas tão somente da justiça justa;

         Ser juiz penal é identificar-se muito mais com Zumbi o rei dos Palmares, com Che e suas aspirações revolucionárias e com Jesus no doloroso caminho da via-crúcis do que com as arbitrariedades dos senhores de engenhos, com as tropas bolivianas que silenciaram para sempre os gritos do herói argentino e com os chicotes e fel que culminaram com a morte do salvador;

         Ser juiz penal é entender da grande importância de seus julgados, é entender que destes podem criarem-se cidadãos bem como monstros;

         Ser juiz penal e, sobretudo ser juiz é enxergar o homem como “homo-sapiens” que é, é não enxergar as partes da lide como “homo-economicus”, é ser íntegro em suas valorações;

         Ser juiz penal é ser humano, ser - humano que sois e não máquinas, rememorando o inesquecível Charles Chaplin;

         Ser juiz penal é nunca esquecer que embora acusados de crimes quem está sob a tutela judicial são seres humanos, seres da nossa espécie;

         Ser juiz penal é não ignorar os versos de Brecht e se importar com os outros, pois senão um dia não se importarão de maneira que seja em nós mesmos.

       

 
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 08/03/2009
Reeditado em 09/12/2013
Código do texto: T1475554
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