MEU SERTÃO

Oh, sertão tão estrelado.

Sonho com você todo dia.

Daqueles tempos de alegria.

Quando amanhecia o dia

E ali cantava o sabiá laranjeira.

Naquelas estradas arenosas.

Onde corria a carroça.

Rumo à cidade.

Testemunhando minha mocidade.

Naquela viagem morosa.

Abreviada pela prosa.

E assim; passava tempo!

Vendo as rodas de madeira

Que rasgavam a areia.

Ali; bem próximo da fronteira.

Logo, cruzávamos a aldeia.

E uma fumaça se esvaia.

Naquele céu de alegria.

Era a panela de barro.

Que fazia um desjejum.

À base do milho.

Parecendo um estribilho.

Naquela vida de outrora.

Quando surgia a aurora.

Nos campos cinzentos do cerrado.

Que já sofria, com o arado.

Que lhes roubava a cena.

Naquela manhã serena.

Que num instante.

Parecia-me um deserto.

Assim, seguia a carroça.

Com o rugir das rodas.

Que estremeciam nos buracos.

Exigindo a força bruta

Do alazão dourado.

Que puxava nossa brisa.

Que batia ao rosto.

Causando um gosto de mato.

Que respirávamos com sofreguidão.

Naquele gostoso sertão.

Com gosto de frutas.

Com cheiro de flores.

Com visão de amor.

Com sensação de vida.

Que perambula sentida.

E, amanhecia; finalmente!

Num dia qualquer da semana.

Homenageando a raça humana.

Naquele torrão longínquo.

Onde também existia gente.

Como parte deste mundo.

Quando os povos de fundem.

Para formar a vida.

No compasso da existência.

Rumo ao mundo de Deus.

Onde os filhos Seus.

Hão de crescer com fé.

Junto com os Machados

E com os encantos.

Daqueles prados.

A primeira visita era a Igreja.

Na presença dos Santos.

Um descanso para quem peleja.

Numa oração de esperança.

De retornar para a querência.

Em face da urgência.

Depois das compras do mês.

Arroz, feijão e charque.

Porque outras coisas a gente plantava.

Naquelas roças abundantes.

Ao lado de árvores aconchegantes.

Vindas da nostalgia de um lugar.

Que era o meu doce sertão.

Ainda presente nas batidas

No meu coração!

Oh, sertão dos meus sonhos.

Para ti retorno angustiado.

Vendo os campos desmatados.

Que assisti no presente.

Pelo progresso demente.

Que insiste em continuar.

A hostilizar nosso lugar.

Assim vou morrendo também.

Nos sonhos que vivi.

Daquele recanto sublime.

De ar puro e natureza virgem.

Que não vejo jamais.

Só em notícia de jornais.

Explorando a judiaria.

Que foi tão bela um dia.

Nas fantasias das crianças.

Esse era o meu sertão.

Quando tudo era belo.

Como o cantar do galo.

E o trote do cavalo.

Nos verdes campos do luar.

Quando as árvores sorriam.

Pelos encantos da natureza.

Que encerrava tanta beleza.

Que passou como o vento

Mas ficaram no pensamento.

Em forma de tormento.

Pois esse era o meu sertão.

Que se foi como um raio.

Mas ficou aqui dentro.

Como força de um lamento!

Machadinho
Enviado por Machadinho em 02/02/2009
Reeditado em 02/02/2009
Código do texto: T1417804