A um passarinho
Salvo da boca do gato,
Ganhou gaiola, paninho,
Grão triturado, água, mamão.
Três vezes no dia
Vinha a mão-passarinha
A dar-lhe calor,
Comidinha. Um dia
Até minhoca ganhou.
Cantou respondendo ao chamado
Da mãe. Esvoaçou.
Machucou o bico,
Que a mão tratou.
A mão cantou,
Mas não era canto de mãe,
Era só canto improvisado.
Batia as asinhas,
Firmava as perninhas,
Às vezes fechava os olhinhos,
Dormia, ao invés de comer.
A mão paciente
Esperava, insistia;
Ele abria o biquinho
E engolia com sofreguidão.
Foram três dias
De tentativas:
Veio a morte e o levou.
A mão entristeceu-se
E se fechou. Depois
Abriu pequenina cova
E o passarinho enterrou.
Vida frágil,
Não conheceu a brisa,
O sol; não alçou voo,
Não ganhou liberdade.
Deixou no ar a lembrança
De um biquinho se abrindo,
Uns olhinhos dormindo
No quentinho da mão;
Uns pezinhos firmando,
Querendo viver.
Vai, passarinho, voar
Pro Norte, pro Sul,
Na imaginação, no papel,
No céu de passarinho
Feito com enlevo,
E dedicação
Na infinita página azul.