Acontece
às vezes imagino que em 1890, quando nasceu
Álvaro de Campos era eu, cem anos antes de mim.
(daí me recordo de um detalhe, pequeno detalhe, detalhe até muito sutil.
esse que penso ser eu, ele nunca nasceu, ele nunca existiu)
em êxtase, sinto que também nunca existi
- mas o espelho, chamando meu olhar,
diz que em 1990, num hospital,
em meio a uma queda de energia,
nascia eu, aqui, às escuras.
cheguei ao mundo já sem saber pra onde ir.
(impressionante como espelhos nunca me permitem sorrir)