Para a menina do cabelo cor-do-sol-inicio-da-tarde
Teu espírito já fora mais livre
quando esqueceu a noção dos limites
de teus sonhos. Na minha alma vieste
e colocaste correntes e bolas de ferro.
Armadilhas. Alarmes. Ontem soaram
berros na noite de minha face. Escutou?
Fui eu sim que em pânico se apavorou
na tua frente. Anjo de mármore. Fios
dourados brotam de tua esfinge
no momento exato que tudo fazia
para me segurar na tempestade.
Mas acontece que fui elaborado
pela matéria dos vapores errantes
e lágrimas
que se posicionaram no temporal de tua face.
E nada se prendem nas fitas trançadas de teu lençol
encharcado. Fui embora no vento e sumi nas brumas.
Confesso. E a única lembrança foi ver-te pulando
ao som da música. Os paetês e as plumas
revelaram-te querendo a brisa noturna.
As nuvens em voltas da lua.
Sombras correm, correm insanamente nas esquinas. Viram-se.
Por isso acredito na verdade de teus olhos
quando me diluiu na fumaça que surgem de ti
nas manhãs frias. Em tuas mãos trêmulas.
No silenciar da íris o espelho te duplicou
e em tuas faces fui mais sincero em teus abraços
do que em te repetir tantas vezes o mesmo sentimento.
Nada de verdadeiro ou falso saem de tuas mãos
quando me segurou forte minha vida terminou aqui.
E tive que me ressuscitar tantas vezes numa mesma casca
Que o frio que vêem de teus lábios
mostrou-me um mundo pequenino, apertado,
sufocante, onde somente morcegos e libélulas viveriam.
Colocaste correntes é verdade
nesta alma errante. E neste simples ato desatino
Libertou-me na tempestade de teus olhos distantes
em tuas faces abertas na duplicidade que te provoca o espelho.
Mas te encontro lá na pequena árvore.
Aquela de caule branco e copa verde.
Beberemos da fonte que libera a sede da dor.
Preocupante instante. Há dias que me sinto outro homem.
De tudo que me torna reto entorta. Por onde vou
nel mezzo del cammin di nostra vita?
Pela boca da bacante há promessas e tesouros.
Trajeto incerto. Me diz o que é belo
depois que te vi de alma aberta?
O gingado da dança encontra corpo.
O embalo do ritmo encontra par.
E minha alma aqui querendo lembrar-te
quando o sol bater naquela árvore.