O SOBREVIVENTE DAS TORMENTAS
Vicejaras do ventre de uma das reencarnações
Mais bonômias de Andrômeda.
Todavia a espiral de vagalhões
Do dínamo de velhacarias
O fustigaste sem pena,
Girassol de mais um alvorecer da vida,
Sentada confortavelmente
Sobre o divã da tirania,
A impor-te dor física
Com o látego da ira
Até um dia:
Fugiras do truculento tsunami sádico
Que era o seu pai.
Foras viver sob os afagos gélidos
Das chuvas, dos papelões, dos jornais, das monções;
Dos viadutos, do urbano orvalho, do abiogênico cimento-chão.
Ah, mas logo aprenderas:
Para sobreviver, subsistir, passar
A língua no holograma da opulência,
Precisavas de metamorfose com urgência:
Viraste Pedro Bala, O CAPITÃO D’AREIA!
Ah, mas que pobre sina a tua, menino:
Por seres ladina crisálida da rapina,
Tornaste-te suculento repasto
Para a fome de sadismo dos Hitleres nojentos, malditos!
Ah, mas que aziaga via a tua, jovem destino:
Por seres larápio pouco exímio,
Foste-te parar na universidade dos inócuos
E hediondos delitos.
Porém, por incrível que pareça,
Apesar da angústia, da dureza, da sicária ambiência,
Tu encontraste abrigo, o sentido, a nobreza:
Graças as narrativas, contadas por um outro interno,
Através da câmara onde fluíam os gerais orgânicos dejetos,
Tu te apaixonaste pelas letras.
Hoje em dia,
Com a grandeza de quem olha para o passado
Com sofrimento, humildade e cabeça soerguida,
Tu és carinhoso pai, és talentoso escritor, és respeitoso marido.
Tu és, afinal, mais um sobrevivente das tormentas,
Que luta pela vida todo santo dia.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA