AOS PAIS - DESPEDIDA
Uma hora e quarenta de antecedência
a brisa sopra uma melancolia adocicada
os que partirão, levam de nós fragmentos,
momentos retirados com suas raízes fundas em sangue
slides, filmes curta – metragem,
pôr – do – sol da varanda, canções de ninar
roubam o pensamento, empossando olhos pisados
a dor, solícita
ajuda o motorista abrir o porta - malas
De repente
tardiamente percebemos
estarmos siderados pelo trabalho
pelos estudos
em busca de certificados de papel couchê
sem blindagem anti -traça
e o narcisismo que derramamos
aos nossos deuses do egoísmo
tem cor e cheiro de maldade
como sal farfalhado num manto negro
a garoa chega com a noite fria das nossas almas
para crepitar em nossas chagas
com a ardência causticante
qual tiro certeiro de candiru
no vertedouro
abrindo n’alma os vincos escarlates
dos perdões que não pedimos
dos horários que violamos
das sovas que merecíamos
mas não ganhamos
do sair triunfante com a última palavra
e a dobradiça quebrada
e mais um bode ofertado
putrefa ao deus do egoísmo
umedecendo pupilas
levando ao chão dos arrependimentos
nossos castelos de argila
quando o ônibus parte
inapelavelmente
uma dor nos abraça mais forte
como o “ carrapato em seu cão bem quentinho”
e na plataforma S
avistamos resignada, a saudade
esmirilando ainda mais
suas lâminas tão certeiras...
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