AOS PAIS - DESPEDIDA

Uma hora e quarenta de antecedência

a brisa sopra uma melancolia adocicada

os que partirão, levam de nós fragmentos,

momentos retirados com suas raízes fundas em sangue

slides, filmes curta – metragem,

pôr – do – sol da varanda, canções de ninar

roubam o pensamento, empossando olhos pisados

a dor, solícita

ajuda o motorista abrir o porta - malas

De repente

tardiamente percebemos

estarmos siderados pelo trabalho

pelos estudos

em busca de certificados de papel couchê

sem blindagem anti -traça

e o narcisismo que derramamos

aos nossos deuses do egoísmo

tem cor e cheiro de maldade

como sal farfalhado num manto negro

a garoa chega com a noite fria das nossas almas

para crepitar em nossas chagas

com a ardência causticante

qual tiro certeiro de candiru

no vertedouro

abrindo n’alma os vincos escarlates

dos perdões que não pedimos

dos horários que violamos

das sovas que merecíamos

mas não ganhamos

do sair triunfante com a última palavra

e a dobradiça quebrada

e mais um bode ofertado

putrefa ao deus do egoísmo

umedecendo pupilas

levando ao chão dos arrependimentos

nossos castelos de argila

quando o ônibus parte

inapelavelmente

uma dor nos abraça mais forte

como o “ carrapato em seu cão bem quentinho”

e na plataforma S

avistamos resignada, a saudade

esmirilando ainda mais

suas lâminas tão certeiras...

poesiasegirassois.blogspot.com

Davi Cartes Alves
Enviado por Davi Cartes Alves em 13/11/2008
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T1281045
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