Poema da Contrição

“Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir

longe”

Saint-Exúpery

Para Lelinha que deixou sua marca em cada coração.

Eu não vi a moça morta no chão

Não vi o sangue escorrendo,

Não vi o corpo mutilado.

Era tarde

O telefone toca:

Não estou

Não queria atender

Mas deixaram recado.

Morreu .

Maldito!

Não queria saber

Não precisava saber

No entanto, me avisaram.

Por que

Quem sou eu

Que fui para você

Nada...

Tive culpa

Sim nós fomos os culpados!

Dentro da noite um corpo jovem era esmagado

Corpo que já foi amado

Sofrido

Humilhado

Hoje, estraçalhado debaixo de uma roda.

Eu não fui

Não queria ver

Fugi de tudo

Fui covarde.

Não, não fui covarde.

Você não sabe e nunca saberá.

Você partiu e muito deixou para lembrar.

Deixou aquela sinceridade

A verdade que era só sua

A busca e luta pelo amor e igualdade

Eu fiquei

Nada é para mim hoje

Mas já foi muito amor

Hoje você se foi

E sem querer sinto sua morte.

Procuro-te e não a encontro.

Sabe...

Eu me sinto culpada

Queria pedir perdão por tudo o que fiz e pelo que não fiz.

Aquele grito ficou em minha mente

Nunca esquecerei.

Fui covarde.

Deveria ter escutado,

Ter ficado

Mas eu não podia

E você morreu logo depois.

Não quis ver seu corpo.

Não agüentaria.

Hoje choro por você

Mas é inútil chorar agora.

Fui covarde, fui ruim.

Perdoe-me!

Tudo é vazio

Você continua só,

Uma laje apenas.

Terra fria.

Fim.

Morte cruel

E nós somos os culpados.

Você sabe disso.

Nós a matamos

Com nossas mãos a atiramos debaixo daquela roda.

Você não queria este fim

Mas nós a obrigamos a caminhar para ele.

Você é inocente embora a realidade mostre o contrário.

Eu grito

Mas ninguém escuta

Ninguém saberá

Ninguém,...

Mas você é inocente.

Nós os culpados.

É terrível pensar no nunca mais

E você esta hoje neste plano.

Perdida

Morta

Nós não a temos mais

Nós a matamos

E hoje nós a queremos.

Humanidade cruel e desumana

Mata sem pensar no que é morte.

São inúteis as palavras

É muito tarde para dizer.

Você morreu em vão

E nós somos os culpados

Nós fomos os criminosos.

Uma lágrima cai.

É saudade

É aquela dor do remorso

Dor da culpa.

Mas é tarde para salvar.

Você se foi

Nós ficamos com a culpa.

Perdoe todos daí onde você se encontra.

Perdoe aqueles que levaram você à morte.

Perdoe esta humanidade que não sabe aceitar o amor

Perdoe a todos e a mim também

1/9/1968

ZEL
Enviado por ZEL em 06/01/2005
Código do texto: T1263