GONÇALVES DIAS - 144 ANOS NA MAIOR LUZ NAVEGANTE
O mar continua salgado no remate das ondas,
Dos Atins a pérola imergiu sem qualquer brecha,
Intocável, imutável e invariável na cor das águas,
E o gênero da flor querida nada mais reclamou.
Desceu delicadamente nos limites traçados por Deus,
Inerte, sem provimento, alinhado e acomodado,
Não causou falta, impressão e nem manifestação,
No contrabalanço das insanas e malvadas águas.
Perfídia onerosa que custou uma grande vida,
No tributo das mais conspícuas das nossas letras,
Sentença covarde no mundo pétreo e desvalido,
Exceção subjugada no Maranhão por toda a vida.
Sonhos irrefreáveis das pétalas do romantismo,
Alucinações demarcadas de um filho caxiense,
Sub-rogado nos vis porões dos olhos racistas,
Do emérito Senhor Etíope das Palmeiras do babaçu.
Sem qualquer guizo na cidadela da prole branca,
Do único cenáculo catastrófico jamais chamejou,
Mais amou imensamente o casulo sem cátedra,
Onde brota sem cessar as palmeiras de babaçu.
Ó Caxias! Indigesta será sempre o teu belo nome,
É o torrão de sangue e intrigas seculares bestiais,
Alabão funesto sem penugem é o teu retrato cultural,
Onde nasceu Gonçalves Dias no centro do matagal.
Com renome internacional e finos traços europeus,
Por duas vezes pisou delicadamente no solo caxiense,
Desonrado pelos costumes de sua gente, não desistiu,
Dos sonhos de rever Caxias, a sua inteira cidade natal.
Aspirações e anseios deslizantes de morrer sem ver o chão,
Abraçando a arte da poesia debaixo dos grandes cocais,
O Deus do mar soubera muito bem afundar aquele navio,
Evitando que o poeta sofresse tanto o amplo abandono.
Das dores implacáveis da inópia do altivo indianista,
É ferida que não sara sem amizade e com algum dinheiro,
Ó meu Gonçalves Dias! Se estivesse na tua grandiosa Caxias,
Horrendo seria as dores dos teus olhos com o desprezo.
Quiçá! Numa cova rasa como indigente, os caxienses fariam,
De igual modo saciaram com a vida do músico Mozart,
Mais o Deus Onipotente soube dar ao poeta Gonçalves Dias,
A mais bela pérola navegante de todos os mares.
Oxalá! No futuro, dar-te-ei um imenso abrigo,
Na conjunção de todas as tuas abastadas obras,
Edificando entre as minhas e as tuas palmeiras,
Na lateral do velho caminho à Fazenda Boa Vista.
Certeza, eu tenho. Será o farol mais altivo da Sambaíba,
Com um graúdo cálice erguido no altar da nobreza,
Aliviando as moléculas na água do mar com o teu nome,
Simbolismo daquela que abocanhou e não voltou.
E hoje, vejo-te na consternação do desconforto,
Sem nenhum galardão pra morar e ter a placidez,
Nem mesmo as flores colorem o desmerecimento,
Do amargoso, cítrico e sofrível com puro desgosto,
Do homem mais culto que Caxias não o conheceu.
Com o nome irradiante “Casa do poeta Gonçalves Dias”,
O teu olhar não será mais triste e sempre irá ofuscar,
Por todo o oceano revolto, assim reinará as lembranças,
Do filho de que gostaria dum dia ter uma casinha para repousar.
Dando e compartilhando as luzes aos novos poetas,
Das gerações dos homens que escrevem nas letras,
Composições alinhadas nos lençóis da vida marinha,
Desenhadas nos fonemas em qualquer língua.
Hoje, é três de novembro de dois mil e oito,
Completas cento e quarenta e quatro anos,
Ausência de pleno esquecimento dos valores,
Orgulhos dos caxienses em razão doutros louvarem.
Hoje, às dezessete horas desse abençoado dia,
O sino da Igreja da Matriz soará em badaladas,
Leves e cadenciadas no fundo dos presentes,
Em memória do maior e ilustre filho esquecido.