...E SOBRE O LEITE DERRAMADO.

“Porém apenas murmuro - Deixem-me viver,

só assim poderei ser eu mesma e com certeza,

estarei feliz.”

Do texto Desabafo ou Liberdade.

ADI

Publicado no Recanto das Letras em 6/12/2005

E sobre o leite derramado só restou;

Um coração sofrido daquela mulher;

Que se dedicou anos a fio ao seu senhor;

E dali em diante ousaria buscar-se a ser o que de fato é...

Durante algum tempo, muitos foram os sinais;

A chama sem arder chamava a atenção;

O fervor morno da sua antiga relação;

Apontava a temperatura dos instantes finais.

Seu desejo de liberdade e ir embora;

Sua necessidade de desabafo;

-Quero gritar a plenos pulmões enquanto meu peito chora;

-Quero tirar a fantasia da mulher de aço.

O tempo soou e tudo veio à tona;

Explodindo qual um vulcão adormecido;

Da verdade nunca quis ser dona;

E nem tampouco exigir o que lhe era exigido.

Limpar as grelhas do fogão ela precisa;

Pra de agora em diante aprender a lição;

De ser ela mesma, plena e concisa;

Assumindo o ônus de ouvir a voz do seu coração...

-Dei-me o direito de escolha;

-Não me importo o quanto os outros possam falar;

-Quero errar ou acertar antes que eu encolha;

-Quero aprender outras formas de amar.

E assim ela se assumiu com muita responsabilidade;

Mostrando praquela gente o que ela sentia;

Seu amor a esperava naquela outra cidade;

E a partir daquele dia,

Viveram atentos ao som da leiteira que ao fogo deles se aquecia.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)

20/10/08

Baseado numa certa história contada.