NEGRO CÂNTICO
Que me desculpem
os senhores de engenho
da era moderna,
os patrões-de-escravos
do século XXI,
mas o negro nasceu pra cantar...
E ouçam como canta bonito!
Cântico novo, cântico livre,
cântico que ganha o ar
em tons altissonantes,
no tempo e no espaço,
solto no gorjeio infinito
da nota certeira.
Que me desculpem
os racistas modernos,
homens mesquinhos
sem nenhuma visão,
mas o negro nasceu pra cantar...
E ouçam como canta bonito!
Canta com a alma,
canta com o coração,
canta com graça e vontade
a sua verdade,
qual pássaro livre
que voa no céu.
Canta, pois quem canta
seus males espanta,
e canta apesar do salário,
da triste rotina de ser discriminado,
das horas de espera pela condução,
das piadas sem graça,
das entradas de serviço,
do silêncio do Estado...
Ele ainda canta de cabeça erguida
pois conhece seu próprio valor.
Canta, negro,
que a tua liberdade
não tarda a chegar...