Prece ao Poeta
No antro da noite seguido pelo dia,
Você, senhor do meu pensamento,
Alcançou-me na rede da sua magia
Envolvendo-me… Enamorando-me,
Feitiço de amor em cada poesia tua
Mergulhei nas tuas suavidades secretas
No que antes era vazio, abandonado e frio
E o meu beijo abriu-te a boca e soltou o fio
Junto com ele veio o teu riso e acendeu o pavio
Entre mil e uma noites de encantos,
Procurei-te, te amei e em ti me perdi
Para no fim ver-me nos teus prantos,
Solitária nessa tua eterna madrugada,
A alma dilacerada, mas por fim amada
Cheguei por ti amada a abrir mão da primavera
Eu li lá o teu ‘proibido’ e fui atrás da felicidade
Cheirando o perfume do futuro e da saudade
Sem esquecer-me dos teus olhos e do teu sorriso
Poeta perguntas… Como podes viver,
Sem a musa a guiar-te no teu destino,
Com essa dor que dilacera o teu ser!
E te respondo como posso eu, amar,
Se o amor, nunca me soubestes dar!
Catei poetisa todas as folhas do caminho à tua busca
Percorri as mais variadas pistas que do céu se avistam
Dos meus versos eu fiz raízes para firmar teus belos pés
E vi você preencher-me por inteiro com os teus seios
Dando alento e sustento ao meu leito
Aquecendo as minhas noites geladas
E você floresceu comigo e foi meu abrigo
Entre a nossa sofrida dor e a saudade,
Procurei-te entre mil poesias e versos,
Criei-te entre os recantos e encantos,
Despertei o teu delicioso fogo genital
De onde vi uma constelação de estrelas
Os rios, os mares, as fontes cristalinas
Tudo ali brotando dos teus olhos noturnos
Senti dor para logo depois viver o amor,
Perdi-me… para depois te reencontrar
No pequeno infinito que de ti aí palpita
E do teu silêncio fiz a prece do meu púlpito
E quando de vez calei eu ainda mais te amei
E quedei-me em teus braços e assim sussurrei
Poeta do meu coração vem logo clamar
Esta musa que tu soubeste criar, amar e
que te acalentou entre a oração e paixão
E, hoje te peço que venhas me devolver
Minha única e verdadeira razão de viver:
E agora me vou embora pelo mundo afora
Já que não posso viver a glória que de ti aflora
Que não mais senti nos teus braços como outrora
Não posso negar o sentimento vibrante de que é
Você… Somente e eternamente Você...
*****
Dueto: Salomé & Hilde
Dedicado a Pablo Neruda
Nota: Inspirado em ‘Prece ao Amor’ da Salomé
http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/1172617