OS SOLDADOS DO SUL

Entre 1961 e 1974 teve lugar nos actuais estados independentes que são a Guiné-Bissau, Angola e Moçambique uma luta pela Independência entre o estado Português governado então por uma ditadura de direita e os guerrilheiros das então provincias ultramarinas portuguesas. Foi uma guerra dura que mobilizou em 13 anos de guerra perto de 900 mil jovens militares portugueses (número espantoso tendo em vista a reduzida população da minha nação – menos de 10 milhões de habitantes) e causou dezenas de milhares de mortos e um número não contabilizado de feridos e traumatizados psicologicamente pela violência por vezes bárbara dos combates, isto somente do lado Português. Apesar dos esforços internacionais para colocar um ponto final no conflito, o governo de Portugal manteve-se intransigente e a guerra só acabou quando em 25 de Abril de 1974 um grupo de militares descontentes revoltosos colocou um ponto final na ditadura cujas origens remontam a 1926 e instaurou a democracia em Portugal.

Este poema é uma homenagem aos combatentes vivos e aos mortos que lutaram numa guerra estúpida e absurda, pois bastava que em 1961 se tivessem assinado meia dúzia de papéis que teriam colocado um fim à questão colonial Portuguesa e restituísse a merecida liberdade aos povos africanos. Nessa Guerra todos foram vítimas excepto o estado fascista que se amarrou à posse das colónias no seu estertor e que ceifou inutilmente vidas para perpetuar o absurdo sonho imperialista que o século 20 mostrou ser isso…sanguinariamente absurdo…

OS SOLDADOS DO SUL

Gente que canta a uma só voz

Gente morta ou viva

Gente que sofre

Ou sofreu

Gente que não está só

Sonhos e lágrimas

Daqueles que tiveram que partir

Para longe das mães

Distantes dos amores

Para o outro lado do mar

Onde perderam a alegria juvenil

Onde aprenderam a matar

Por que causa

Por que motivo

Por que política?

De um estado nocivo

Sonhos de liberdade

Moviam os combatentes

Para as suas nações

Que viviam presas

Das suas próprias visões

Egoístas

Narcísicas

Porque toda a morte é vã

Quando é feita pela politica

Inverno perpétuo

Que durou

Até à clareira de Abril

Quando a liberdade

Por fim floriu

E deu origem

A sonhos mil

Embora os soldados caídos

Nunca mais voltem

E as lágrimas

Nunca hão-de parar de cair

E os pesadelos

São a realidade dos vivos

Porque essa primavera veio

Que tornou os povos inimigos

Em povos Irmãos

Mas um pouco tarde demais

Ela demorou a surgir…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 25/09/2008
Código do texto: T1195317
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.