Velho Amigo
São teus esses gestos pequenos,
Serena é tua voz já cansada;
Teu belo semblante, embotado,
Sulcado por anos sem fim.
Teus olhos não brotam tristeza,
Tristeza é doença que fica
Comigo que fraco padeço
Da cisma cruel a bulhar.
Os anos de vida já foram,
Conforme assertiva confessa;
Os dias de festa que restam
Sucumbem aos dias a sós.
Queria te dar energia
Às pernas cansadas de todo
E junto de ti caminhar
O pouco de chão que te cabe.
Mas dura é a vida a ensinar,
Tão claro qual sol de verão,
Que só se padece da perda
Alguém cuja perda lhe é certa.
Enlevo-me assaz de teu toque,
Tuas sábias palavras que guardas
Aos dias inquietos que chegam,
Tornando-me calmo e seguro.
E peço do fundo do peito,
Chegado o infalível momento,
Que Deus te permita partir
Tão plácido quanto te vejo.