SEVERINO, neguinho (cor)

(corrigido)

SEVERINO

Severino,

neguinho safado da peste,

nordestino malvado,

nordestino bem quisto,

nordestino porreta.

Órfão de mãe viva,

e de pai mais ou menos:

"...picareta."

Severino,

neguinho menino,

em uma encruzilhada da vida,

lhe demos guarida,

pela cama e comida,

o seu salário,

trabalho escravo.

Eu, ignorante,

esqueci que você

estava entre os

pequenos,

e a meu serviço era um bravo.

Levado menino,

um dia qualquer,

após muita luta,

acabáramos de pintar a casa,

pronta a nossa labuta...

...você com uma colher,

dessas de pedreiro,

riscou as paredes,

sua imaginação criou asa,

fazendo um pampeiro.

Como isso veio a me enfurecer,

neguinho pequeno,

franzino.

-" Porque fez isso Severino?..."

Grande a minha revolta,

Economizei o que não tinha,

para agradar a minha rainha.

Agora, ô neguinho safado,

riscou a troco de nada,

a fatalidade ao meu futuro,

neguinho danado,

riscou meu muro,

riscou minha parede,

emaranhou minha rede.

Filhote de cruz-credo,

atual Nostradamos...

...levou uma surra pela bravura,

sei, não foi praga,

foi pré-destinação,

onde sujou com a rabiscação,

do rodapé até meia altura,

hoje tem pelo capricho da natureza,

a doce candura,

a cor da minha avareza,

do nada, toda a alvura...

Bem sei,

de você não mais sei,

se cresceu,

se morreu menino,

se continua Candango de nascença,

se é Candango nordestino,

se virou gente boa,

se virou bandido,

se foi morto em desavença,

se virou gente atoa,

se é o mesmo Severino,

se ficou corrompido,

se virou padre,

ou se viroui coroinha,

se foi com sua madre,

depois que saiu da casa do Jurinha...

Mas naquele dia eu errei,

e como...

...a muito lhe perdoei,

e a Deus lhe peço perdão,

esteja onde estiver,

lembro-lhe com a colher...

Agora fica aí se vai me perdoar ou não?...

Severino,

neguinho nordestino,

Candango safado,

malvado não foi não,

safado também foi não.

Foi um anjo 'neguinho",

que não existe por aí.

Protegeu meu filho na infância,

e o amigo dele com carinho.

Trago-lhe no coração,

(Anjo negro que a igreja esqueceu de fazer um igual),

mas Deus em sua sabedoria o fêz,

tal e qual,

trabalhador e amigo.

(Melhor que nas estórias de era uma vez.)

Não lhe esqueci nem vou esquecer,

fica comigo,

parceiro, conterrâneo nordestino.

Fico consigo,

e com Deus,

bom menino...

...Severino.

Quinta-feira, 4 de janeiro de 2001.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 23/08/2008
Código do texto: T1141590
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