Poema português
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Miguel e Malubarni, Henricabílio, Susana Custódio,
Isabel Fontes, Zé Albano, Tera Sá e demais poetas
portugueses
Outroras grandezas enchem o meu espírito
Meu sangue luso-brasileiro implora
Os acordes de um fado
E percorro, espiritualmente, os locais onde, há duzentos anos,
Meus avós deixaram as mães chorosas
Atravessando a Atlântico
Toda saudade é pouca
Todo fado não traduz a melancolia
Daqueles que ficaram lá
Onde não canta o sabiá
Esperando
Quantos cais tem Lisboa
Quantas muralhas nos separam
Lágrimas petrificadas viraram pérolas
E, com elas, faço esta poesia
Um colar precioso
Próprio para os princípes da língua amorosa
Para dizer que tenho saudades dos lugares nunca pisados
Marcados no meu espírito
Pelas palavras dos meus avós
Eternizadas nos falares, nas guitarras, nos bandolins
À sombra das videiras no fundo do quintal da casa
Da casa da minha infância
E que, sob a ventura de meu pai Arlindo e de minha Nita,
Sagraram o meu coração
Com pão, vinho, ternura, oh, quanta ternura
E esse vento que, agora, passa e acaricia a minha face
Conduz as caravelas do meu coração para lá
Onde não canta o sabiá!
Divinópolis, 14.08.08