A TI, MEU PAI
A TI, MEU PAI
(Ivone Carvalho)
Teu olhar cansado, meigo e manso,
Teu porte ainda esbelto, corpo ereto,
Tua voz calma, serena e sincera,
Tua eterna compreensão,
Teus conselhos tão presentes,
Tuas mãos qu’inda me afagam,
Tuas palavras em forma de oração...
Revelam tu’experiência da vida,
Fazem me sentir filha querida,
Filha amada, tua menina,
Como tu sempre me chamas,
Tu’eterna menininha,
Tu’experiência me incentiva,
Tua voz, pai, me fascina!
Somos tão próximos, tão iguais!
Tivemos sonhos magistrais,
Alguns não mais acontecerão,
Outros, talvez, inda é tempo,
Muitos, juntos, já vivemos,
Outros, para o céu levaremos,
Mas todos nos deram emoção!
Meu pai, és meu ídolo, meu lema,
Não consigo reter o pranto
quando para ti me dirijo,
Não sei por que, paizinho,
Mas sempre foi assim,
Meu medo de te perder,
sempre me fez sofrer!
Vejo tu’alegria quando me vês feliz,
Esqueces até as tristezas,
quando eu estou presente,
E a Deus agradeço a saúde
do teu corpo e da tua mente.
Tens sempre, para mim, um sorriso
Tão repleto de esperanças,
Falas de tuas preces
como se eu inda fosse criança,
Deito no teu peito e volto a ser menina,
Me encolho quando me abraças
E me sinto pequenina.
Choro quando, sozinhos,
revivemos as lembranças,
Tenho, por ti, só carinho,
És a minha confiança,
Teus cabelos tão branquinhos
Feito mechas de algodão,
Teu olhar interessado esconde tua solidão.
Pois sei do teu sofrimento,
Da dor que sufoca o teu peito,
Mesmo com todos ao lado,
Tens os meninos guardados
E a saudade como alento
Pois, antes de ti, se foram,
Amargurando teu coração.
Fui de ti, homem adulto,
As primas lágrimas que derramaste,
Foi assim que eu nasci
E u’a família formaste,
Essas primas, eu não vi,
Mas, sem dúvida, as senti,
Quando em teu colo me pegaste.
Porém, as que derramaste
Quando teus filhos se foram,
Cortaram meu coração,
e teus olhos marejados,
ficaram então mais cansados
e eu daria minha vida
para não vê-los molhados.
Eu já nem sei, meu paizinho,
O que estou aqui dizendo,
Só sei que é tanto carinho
Que está sim me movendo
Quisera, mais do que filha,
Poder te dar proteção,
A mesma que tu me deste
Segurando minha mão.
Queria arrancar de ti
Essa tua experiência
Pra que tu nunca sofresses,
Não dissesses o que dizes,
Que tua vida já viveste
E só esperas teu fim.
E dizes que junto a Deus
Tens um crédito imenso,
Porque Ele lhe dá vida
Por um tempo tão extenso,
Mas digo, paizinho, te enganas,
Não é tão imenso assim,
Pois queria fosses eterno,
Vivendo sempre pra mim!
Viste crescerem os netos,
Agora vês teu bisneto
E outros tantos hão de vir,
E quero, meu pai querido,
Te cuides e cuides de mim
E saibas que o teu sorriso,
É tudo que se faz preciso,
Pra me veres feliz assim!
Ivone da Conceição Rodrigues Carvalho
07/08/2004
NOTA DA AUTORA:
Sempre tive medo de perder meu pai. Há um ano ele me deixou aqui, sentindo esta saudade imensa, esta vontade de abraçá-lo, beijá-lo, sentir sua proteção e dizer, olhando nos seus olhos, que o amo tanto, tanto, tanto! Mas sei que ele me ouve, me vê e me espera rodeado de anjos e amigos, pertinho de Jesus.