ASCESE DE UM FAROLEIRO
Rejeitei o mundo e seus progressos,
os vícios e seus prazeres,
fui viver isolado, nos rochedos marítimos de um farol.
E tudo que levei desse mundo cruel,
foram minhas vestimentas e o meu rouxinol.
Lá... Eu não tinha notícias do mundo,
não via nenhum ser semelhante,
nem ouvia nenhuma voz, a não ser a minha própria.
Chegava a parecer, que eu era o último sobrevivente,
de um dilúvio que abalara toda terra!
Ouvia apenas: o cantar do meu querido rouxinol,
o estourar das ondas nas pedras,
o assobiar do vento varrendo o mar,
e ao entardecer, via andorinhas povoando o imenso céu azul.
Hóspede de Netuno e vizinho de Júpiter,
eu ficava triste, vendo Apolo em seu carro de ouro
arrastando para o abismo, o meu amigo sol.
Mas logo, a doce Diana, trazia-me,
em sua carruagem de prata a lua cheia, para fazer-me companhia em noites de solidão.
Era o meu dever, acender todas as noites, a cúpula do farol
e também, passear sobre a vastidão das águas,
com o meu comprido leque, incendiado na tristeza noturna...
Pelo qual abria, uma estrada de luz na floresta da noite,
alertando e orientando aos que andam nas ondas...
Da torre do farol, eu olhava o céu enegrecido,
via estrelas cintilantes e reluzentes.
Olhava também, as águas que tomavam formas de montanhas
coroadas de espumas efervescentes!
Pensamentos passavam pela minha cabeça como nuvens passageiras...
(Eram alegres recordações de minha infância derradeira)
Pensamentos de nostalgia e de solidão,
também invadiram o meu coração,
orque os homens são egoístas, querem em tudo ter razão?
Aqui estou todas as noites, não para ganhar o pão,
mas porque Deus me concedeu esta profissão,
se esta for a minha tarefa para a minha elevação,
a cumprirei com toda fé e intensificada devoção.
Não devo nada ao universo alheio
e com o meu olhar no horizonte negro:
Velo pela vida dos felizes,
pela fortuna dos ricos
e velo pela prosperidade também dos maus...
Pois sou homem de pensamento, velando sobre o oceano das idéias...
Não sou inútil quando dou um grito de luz,
levantado do vazio do céu e do vácuo do mar...
Porque sei que existe alguma embarcação,
neste grande oceano, que eu venha a orientar.
Por isso vos digo: Filhos de Allah!
O meu posto é na torre deste farol,
varrendo com o facho do meu cérebro,
a imensidão do céu e a vastidão do mar!
Fim desta, C. Santos.