LABOR HONRADO

LABOR HONRADO

Ontem pude contemplar

O quão é árdua a rotina, a jornada

Dos mantenedores da saúde

De uma das quase inumeráveis faces urbanas

Da nem sempre bem tratada

Aquosa Casa da egocêntrica raça humana.

Ontem pude contemplar

O etéreo reverberar da visceral poesia

Que emana como a fotossíntese do cotidiano urbano:

O correr impávido e ativo

Do esquadrão dos caçadores do lixo.

Quanta alegria, Quanta desenvoltura:

Os jardins de girassóis, que lhes afloram

Da janela d’alma,

Nada nos revelam

De sua dolente e escravizante caminhadura amarga.

Contudo estes heróis não cansam:

Contumazes, têm consigo a fé na esperança

Já que ostentam em seu semblante

O imponente lume da jactância!

E assim bivagam estes:

Trilhando o horizonte da dignidade,

A cada esquina da cidade,

Não removem tão-somente

A embriaguez de detritos que aprisionam nossas vistas,

Mas, da modernidade,

Tornam-se a nova Ametista.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA