Canção ao rio (Tributo intertextual à Gonçalves Dias)
Minha terra tem um rio...,
Nas suas margens floresciam,
Ipês, sapucaias, paineiras...!
Curiós, pintassilgos, sábias...,
Cantavam sonoros cantos,
Enquanto viviam por lá!
A andar sozinha pelo mirante,
Quanta beleza se via cá!
Nosso céu tinha mais aves,
Nosso rio tinha mais peixes,
Nas suas águas espumantes,
Corredeiras se viam lá!
Foram então transportadas,
Para abastecer outros lugares.
Quando a chuva vai embora,
E a seca apavora,
Meus olhos derrubam lágrimas,
Por não ver mais o seu véu,
Rolando em suas cascatas!
Minha terra tem um rio...,
Onde lambaris, mandis, piabas...,
Venciam suas correntezas,
Fertilizando as suas águas.
Lá, naquele cantinho do salto,
Thebe, filha do deus Asopus,
Orgulhosa como tua escrava,
Molhava seu corpo nu,
Abençoando as suas águas!
Minha terra tem um rio...,
De tanta beleza e encanto,
Que mesmo procurando tanto,
Não encontrei nada igual,
Nos lugares mais distantes,
Danúbio, Mississipi, Orange,
Eufrates, Reno, Sena,
Tamisa, Tejo, Ganges...
De valorosos fatos...,quantos,
Da história da humanidade,
Não podem aos olhos dessa sua amante,
Suprir as belezas do seu manancial.
Minha terra tem um rio...
Queira que um dia o seu povo,
Volte a sorver as delicias,
Da sua corrente virginal.
Da volta dos cardumes de peixes,
Das suas matas verdejantes,
E também do sabiá cantante,
Que canta nos seus gorjeios,
Que essa pobre viajante,
Nunca encontrou por lá,
Os amores e primores,
Das suas margens floridas,
Que tanto havia cá!
Minha terra tem um rio...,
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu possa presenciar,
As comportas ruírem,
As suas águas subirem,
Correrem pelo seu leito,
E a sua ilha abraçar.
Não permita Deus que eu morra,
Longe dos seus amores,
Sem que aviste os ipês,
Onde canta o Sabiá.
Sem que veja rolarem as águas,
Do rio de Piracicaba!
Ana Marly de oliveira Jacobino