OS TRÊS SANGUES DE ARUANDA (ODE À SERRA DO TALHADO)

Te conhecí, Aruanda

Quando era ainda criança

Vives na minha lembrança

Serra do meu coração...

Quantos tu viste nascer

Para depois te esquecer

Hoje pareces dizer

Quanto dói a ingratidão!

Talhado, resto de história

Perdoas a imprudência

De quem te nega assistência

Sem confessar seu pecado...

Teu quilombo abandonado

O teu povo indiferente

Vive hoje outro presente

Esquecendo seu passado.

Solo rico de três raças

Cheio de brasilidade

Abrigaste todas três

Na tua simplicidade

Orgulho da descendência

Do índio pela inocência

Do branco pela imprudência

Do negro pela humildade

Teu índio foi perseguido

Pela civilização

Teu negro, ficou sem pátria

Sem lar, sem terra, sem pão

Temendo o branco ambicioso

Foge ao tronco tenebroso

Descobre o maravilhoso

Barro rico do teu chão.

São três povos diferentes

Que unidos valem por seis

O índio, dono da terra

O negro por sua vez

Deixou de ser soberano

Trouxe do solo africano

Nos gemidos do oceano

Sangue para o português.

Passado que não morreu

Teu quilombo tem memória

Nas três raças que o Brasil

Concretizou sua história

Índio, negro e português

Unificaram a semente

E hoje teus descendentes

Descendem de todos três.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 29/06/2008
Código do texto: T1056283
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