OS TRÊS SANGUES DE ARUANDA (ODE À SERRA DO TALHADO)
Te conhecí, Aruanda
Quando era ainda criança
Vives na minha lembrança
Serra do meu coração...
Quantos tu viste nascer
Para depois te esquecer
Hoje pareces dizer
Quanto dói a ingratidão!
Talhado, resto de história
Perdoas a imprudência
De quem te nega assistência
Sem confessar seu pecado...
Teu quilombo abandonado
O teu povo indiferente
Vive hoje outro presente
Esquecendo seu passado.
Solo rico de três raças
Cheio de brasilidade
Abrigaste todas três
Na tua simplicidade
Orgulho da descendência
Do índio pela inocência
Do branco pela imprudência
Do negro pela humildade
Teu índio foi perseguido
Pela civilização
Teu negro, ficou sem pátria
Sem lar, sem terra, sem pão
Temendo o branco ambicioso
Foge ao tronco tenebroso
Descobre o maravilhoso
Barro rico do teu chão.
São três povos diferentes
Que unidos valem por seis
O índio, dono da terra
O negro por sua vez
Deixou de ser soberano
Trouxe do solo africano
Nos gemidos do oceano
Sangue para o português.
Passado que não morreu
Teu quilombo tem memória
Nas três raças que o Brasil
Concretizou sua história
Índio, negro e português
Unificaram a semente
E hoje teus descendentes
Descendem de todos três.