NÃO POSSO VER-TE SILENTE
Não posso ver-te silente
porque te sinto distante...
entre tua boca e a palavra
mora talvez minha angustia
como entre o dia e a noite
paira um ocaso tristonho.
Não posso ver-te silente,
quando em teus olhos pousados,
gorgeiam dois sanhaçús
e teus labios emudecem
como a fonte dos desejos
já sem desejo e sem sonho.
Não posso ver-te silente
quando atrás de tua voz
existe talvez alguém
que tu própria desconhece
soando, como batidas
No gongo que estremece.
Não posso ver-te silente
Pois uso tua palavra
Pra fazer meu improviso,
Arquitetar meu desejo.
De recolher teu silêncio
A sombra de devaneios
Nos enlaçados enleios
Da doçura do teu beijo.