NÃO POSSO VER-TE SILENTE

Não posso ver-te silente

porque te sinto distante...

entre tua boca e a palavra

mora talvez minha angustia

como entre o dia e a noite

paira um ocaso tristonho.

Não posso ver-te silente,

quando em teus olhos pousados,

gorgeiam dois sanhaçús

e teus labios emudecem

como a fonte dos desejos

já sem desejo e sem sonho.

Não posso ver-te silente

quando atrás de tua voz

existe talvez alguém

que tu própria desconhece

soando, como batidas

No gongo que estremece.

Não posso ver-te silente

Pois uso tua palavra

Pra fazer meu improviso,

Arquitetar meu desejo.

De recolher teu silêncio

A sombra de devaneios

Nos enlaçados enleios

Da doçura do teu beijo.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 28/06/2008
Código do texto: T1054910
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