FLOWER OF DARK JOY
FLOWER OF DARK JOY
(ODE Á BANDA PEARL JAM)
A flor da alacridade soturna
Descerra-se na tez da minha mente
Quando ouço a melodiosa estrada de guitarras
Emitir um suave som estridente.
Ele percorre todo o duto existente em meu corpo
Ao entranhar-se no sangue cálido,
Tornando-o magma, ígneo, escaldante lava,
A energia do sol, a reencarnação do fogo!
No entanto, como em contraponto,
A rede de pêlos, que envolve a derme,
Fica ultra-eriçada como se estivesse
Recoberta por um denso fluido de água gélida, quase neve.
As letras são lufadas de dor
Que irrompem-me a córnea, a retina, os neurônios:
Transformam-me os pensamentos
Em cristalinos espelhos,
Onde posso contemplar a aura
Do verdadeiro eu de uma considerável parte dos homens:
Uma vez lá, me deparo com um imensurável
Deserto. O deserto do amor pela sua acolhedora casa
E por seus irmãos de ventre, berço, última morada.
A voz de Ed me enternece:
Parece que dela emana
Um brado que é dele e o lacera,
Todavia, é de todos aqueles que sofrem
De um falso lume do amor pessoal, altruísta ou magnânimo.
O seu canto é depressivo:
A depressão é uma reação
Á onipresença onipotente da impotência
Que o trucida por não enxergar o punhal do girassol
Para lutar contra a vil-metálica opressão atroz e ferina.
Ah, ainda que não seja adepto da psicodelia,
Quando ouço a melodiosa estrada de guitarras,
Me entrego ás orquídeas alucinógenas
Que, na transparência da imagem,
Me revelam a cor da verdade.
Então me sinto absorver pelo rei dos vácuos,
E depois que a sua presença se dissolve,
Brota em mim a dor do eterno naufrágio
Por saber que minha consciência sabe
Que a única arma que tenho para a contenda
É ser um cavaleiro inconformado.
Ah, quando ouço a melodiosa estrada de guitarras
Emitir seu suave som estridente,
Conheço a natureza da dor
Que ecoa na alma das oprimidas gentes
Quais no torpe cosmo de Pandora
Estão aos montes,
São contínuas enchentes caudalosas;
E n’alma de mim mesmo, oceano do nada na História.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA