TERRA A VISTA! MARIA CELESTE.
Ó baixios d´areas,
em que poças deságuas o alcanças?
Em que quarto d’horas
o Celeste náufrago o afogas?
Em que pira branda
o inelutável fogaréu perpetuas?
Vi já avistei
botes, barris e cordas,
vi corpos e destroços a bombordo,
e a estibordo vi explosões de s.o.s e lamentos.
Vi avistei
inerte a nau no vau
do encalhe pela baixa das ondas.
Vi sentir
a gula da fúria
cresta do fogo.
Vi ouvir
a tormenta
e a borrasca dos ventos.
Vi testemunhei
sob o azul cerúlio do céu
a nau Celeste afogar-se,
indo a pique do purgatório ao inferno.
Vi de cá
da meia-lua-laranja,
à olhos nus de uns para os outros
rasos d'água: o medo, o pânico,
e o brado clamor do espanto.
Meu Deus?
Só vi mortos em brasa
e zumbis em choro!
D'ante o cais da sagração
tu és atemporal ó "Maria Celeste”,
porque t'alma
plange na memória do homem.
SERRAOMANOEL – SLZ/MA – TRINIDAD – 18.06.2008.
NOTA: O NAVIO MARIA CELESTE FOI A PIQUE [FOGO] NOS ANOS 50 NA BAIA DE SÃO MARCOS À VISTA DE TODOS, BEM DEFRONTE À ILHA DE SÃO LUIS [MA]. POR CONTA DO FATÍDICO INCÊNDIO E DAS SUCESSIVAS EXPLOSÕES GERADAS PELOS BARRIS DE PÓLVORA QUE TRANSPORTAVA NO SEU PORÃO, PRATICAMENTE TODA A TRIPULAÇÃO E OS PASSAGEIROS QUE SE ENCONTRAVAM A BORDO FORAM DIZIMADOS PELAS LABAREDAS, E APENAS ALGUNS POUCOS SOBREVIVERAM.