JORNALISTA
Faz quase quatro anos que o óxido do tempo cobriu o céu de outono
Para o teu sepultamento de repórter e jornalista morto
Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio
Acolhem-te o sono esses barracos antigos de tábua por onde te penetras
Teu ataúde cintilante, hiante em verde amarelo.
Todas as rosas para enfeitar o teu sono, repórter e jornalista morto
Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio.
Todas as rosas realçavam teu semblante de cerúmen
Tuas mãos em oração, teus cabelos brancos cortados baixinho...
Abriam bem teus turvos olhos, repórter e jornalista morto.
Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio
Por sobre ti o empíreo é velho, não te abarca.
Mas agora terás, no jardim da saudade
Caracóis e térmites da terra para investigar como gostavas
Ao redor do velho regato, repórter e jornalista morto
Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio.
Ah, grande jornalista morto a apetecer a ocasião
Que inocência a tua, como te afastaste da minha alma
Por esse sombrio entardecer a espalhar restos mortais incinerados...
Que desventura a tua, repórter e jornalista morto
Que abastados os homens que te seguem
Segurando rosas pelo Morro do Cruzeiro no Rio...
Que vácuo remanesceu o planeta com a tua falta....
Que sinopse os barracos... que entregue ao restos mortais
A perder as primeiras partes distintas da corola na escuridão.
(Poema dedicado ao Repórter e Jornalisa Tim Lopes)