JORNALISTA

Faz quase quatro anos que o óxido do tempo cobriu o céu de outono

Para o teu sepultamento de repórter e jornalista morto

Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio

Acolhem-te o sono esses barracos antigos de tábua por onde te penetras

Teu ataúde cintilante, hiante em verde amarelo.

Todas as rosas para enfeitar o teu sono, repórter e jornalista morto

Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio.

Todas as rosas realçavam teu semblante de cerúmen

Tuas mãos em oração, teus cabelos brancos cortados baixinho...

Abriam bem teus turvos olhos, repórter e jornalista morto.

Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio

Por sobre ti o empíreo é velho, não te abarca.

Mas agora terás, no jardim da saudade

Caracóis e térmites da terra para investigar como gostavas

Ao redor do velho regato, repórter e jornalista morto

Jornalista esquartejado e morto no Morro do Cruzeiro no Rio.

Ah, grande jornalista morto a apetecer a ocasião

Que inocência a tua, como te afastaste da minha alma

Por esse sombrio entardecer a espalhar restos mortais incinerados...

Que desventura a tua, repórter e jornalista morto

Que abastados os homens que te seguem

Segurando rosas pelo Morro do Cruzeiro no Rio...

Que vácuo remanesceu o planeta com a tua falta....

Que sinopse os barracos... que entregue ao restos mortais

A perder as primeiras partes distintas da corola na escuridão.

(Poema dedicado ao Repórter e Jornalisa Tim Lopes)

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 24/01/2006
Reeditado em 25/01/2006
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