MARISQUEIRAS

MARISQUEIRAS

Quase no limiar da manhã,

Sofredores semblantes de mulheres denodadas

Partem de suas calorosas vivendas infaustas

Rumo ao encontro de mais um árido dia de lavra.

E que lavra dura, pesada, prolífico jardim de sáfaras:

Colher no Atlântico mar da Goiânia pernambucana

Pérolas culinárias que hão de extasiar o paladar

Daqueles providos de algibeiras

Parcamente ou demasiadamente

Magnânimas, exuberantes cataratas do Iguaçu e do Niágara,

Imponentes cordilheiras dos Andes e do Himalaia!

Ah, o quinhão que recebem

É torpe, infame, aluvião de vexames nada breves:

Uma ignóbil monção de atrozes intempéries ultrajantes

Que as afoga no sádico oceano de dores

Oclusas no reino do pranto exangue,

Salpicadas de alamedas da piedade serelepe e incessante.

No entanto suplantam a humilhação

Com o fulgor da aura da dignidade,

Que aflora da imagem de suas nordestinas cabeças,

Levantadas ao girassol-firmamento em amplidão na verdade.

Sim, e lá vão elas, as catadoras de mariscos,

Com seus filhos lhes fazendo companhia,

Depois de um dia pejado de faina cansativa

E humilde dinheiro na palma das mãos,

Voltar, finalmente, para o aconchego

De seu exíguo e íntimo torrão.

jessé barbosa de oliveira