O PLENILÚNIO DE ANA

O PLENILÚNIO DE ANA

Neuza Maria Spínola

A história humana fala de lágrimas,

Que inundam meu coração; silenciosas lágrimas!

Lágrimas outras, menos veladas, incontidas,

Molham o meu rosto, e descem amarguradas;

Choro pelas duas lágrimas silenciosas,

Saídas do rosto da minha mãe, dolorosas,

Quando uma longa sonda doída,

Introduzida pelo seu corpo frágil, atrevida,

A mantinha deitada num leito de hospital.

Cento e três anos de uma frágil e forte mulher,

Quase invisível na simplicidade do seu ser;

No seu tempo, linda e generosa flor,

Incansável no trabalho diuturno do amor.

Mãos de fada costurava simples tecidos,

Dava elegância aos mais lindos vestidos,

Costurando e alimentando sua prole;

Dando sabor aos alimentos antes que a fome assole;

Mulher guerreira, majestosa como campo florido,

Beleza jovem, iluminada, sem perder o sentido,

Das sombras e mistérios, sons de seus gritos,

Que em sua forma centenária, guardou-os em si.

Choro a minha mãe, que distribuía sorrisos,

Num leito de hospital , como se estivesse no paraíso,

Emocionando médicos e enfermeiras, até,

E se a saúde lhe faltava, não se ausentava a fé!

Choro minha mãe pela sua cadelinha Malu,

Que a procura triste, pela casa vazia,

Deitada com os olhos distantes, sem a sua companhia!

Choro minha mãe, que me ensinou a amar

De forma extremada, radical, no sorrir, no abraçar,

Na ternura, no perdão, muito antes do alimentar;

Mesmo que ela não tivesse o conhecer do soletrar!

Choro minha mãe, que nunca teve escola,

Que não aprendeu latim para as missas de outrora,

Que desconhece a semântica das palavras ou tons,

Mas compreende e emprega os verdadeiros sons!

Que foi alfabetizada no respeito e no amor ao ser,

Mas deixará na aridez da vida suas águas cristalinas,

Onde os pássaros cantam e eu me ajoelho para beber!

Meu pranto é o pranto do espanto,

Diante da visibilidade de Deus, nos seus olhos, no entanto,

Olhos, cuja luz, já não é deste mundo,

Onde reluz um ser, que Tem algo profundo!

Ah! Quantas vezes o pai, espiou, ansioso,

Pela janela do céu, com seu olhar amoroso,

Para ver se ela já estava chegando!

Ana, a mulher forte da Bíblia, nos mistérios insondáveis do ETERNO.

Meus queridos colegas recantistas, hoje coloco aqui no nosso Recanto, " O PLENILÚNIO DE ANA", uma homenagem muito especial a uma senhora que está com 103 anos de vida.

Pretendia fazer-lhe esta homenagem no seu aniversário, em julho, mas como a vida é um simples sopro de vela, e nesta idade em que D.Ana se encontra, não se pode contar com o dia de amanhã, deixo agora mesmo este poema, baseado em um texto que seu filho escreveu, em seu livro, "Encontros", para que fique sempre marcada sua presença nesta vida e no amor que deixa no coração de seu filho que lhe fez esta homenagem.

Minha participação foi simplesmente de transformar seu texto em poesia e deixar a ela esta dedicatória, que o faço com o maior carinho, mesmo não a conhecendo pessoalmente, mas pela transferência do amor que seu filho tem pela senhora, D.Ana Freire Gonçalves.

A emoção que o Roberto transmitiu-me ao ler este poema, deixou-me muito feliz e inspirada a guardá-lo para a vida.

Em meu blog no Wordpress, deixei junto a ele um vídeo, cuja música chama-se "Who Wants to Live Forever", que deu sentido e completou o poema. Quem quiser vê-lo, agora poderá acessar o youtube - http://www.youtube.com/user/poetaminas?feature=results_main

O link para ver a publicação no Blog encontra-se no vídeo, do mesmo nome do poema, no youtube.

http://neuzamariasp.wordpress.com (abra arquivos- maio/2008)

beijos e obrigada pelos comentários que deixarem a este poema.

Texto em prosa, escrito por Roberto Gonçalves, parte do seu livro, Encontros, e passado em poesia por Neuza Maria Spínola – 23/05/2008, em homenagem à D. Ana Freire Gonçalves, sua mãe que está atualmente com 105 anos( 2010).

Hoje, 29/05/2012, publico o vídeo deste poema, pois faleceu D.Ana, no dia das mães. Espero que possa ficar no vídeo, uma lembrança para sempre.

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