Olhar
Teu olhar, sem piedade, me traga
Embriaga, afaga, acende, apaga
Esqueço do mundo, fico cega
Quando demoras no meu corpo
Lágrimas escorrem pelas minhas curvas
São as águas de março, as dores que faço
Sofro, pois não te posso mais expulsar
Agora já és parte da minha história
Relembro nossos minutos sozinhos
Fico horas repassando teus passos
Ainda te sinto, e me ressinto
Porque já deveria ter te esquecido
Não sei por que insistes em morar
Neste meu coração árido
Não sei por que persistes em plantar
Sonhos que em mim não irão germinar
Sou terra seca, maltratada, abandonada
Que aprendeu a retirar da pouca chuva
Gotas de amor para sobreviver
Não tens obrigação de me compreender
O teclado é companheiro das madrugadas
Paciente, compartilha de todas as minhas moradas
Dele não sinto vergonha, medo, culpa
Falo com ele como se fosse contigo
Não entendo tuas atitudes
Tua frieza, como se me culpasses de existir
Teu anseio, como se me quisesses dominar
Sentimentos que culminam na separação
Agora estás nos braços de outra, eu sei
Esquecestes de mim assim tão rápido...
Eu fui brisa num domingo de sol
Quando fostes raios em violenta tempestade
Deixastes marcas, já eu não te impressionei
Mas na verdade, confesso, jamais esperei
Manter-te ao meu lado, amarrado
Por compromissos ou convenções
E sim pela força das emoções.
Enfim aprendi, de novo, caí
Das alturas, cheguei ao inferno
Do céu, conheci as punições
Para quem se permite viver aquilo que vivi.