Além da Pista, Além do Palco
A fumaça do teu cigarro que vem do outro lado da pista e toca meu rosto, é uma carícia.
Se, erras e te corrige, tua falha é doce e compreensível. És amador.
Teu olhar que não acha o meu. Teus olhos que fogem dos meus.
Tua boca segura palavras. Meu ouvido ouve-as sem existir.
Existe uma música diferente da que toca.
Enquanto tudo em volta parece girar. Existe uma pausa no tempo.
Um universo congelado entre mim e ti.
Torço para as horas não passarem. Quando irei te ver, se só te conheço há alguns minutos?
Crio vários nomes, te chamo de todos os nomes.
Sem vergonha, agora vejo que me percebes, mas tens medo.
Medo do que pode te acontecer ao atravessares teu olhar além da pista. Além do palco.
Descubro que teus gestos estão todos armados, para que eu não perceba que me percebes.
Os meus, cada vez mais naturais para te constranger.
Viras pra não me ver. Apagas teu cigarro pra não mais me tocar. E assim te afastas de mim.
Mas és fumante. Acenderás outro, e lá estarei novamente, esperando o teu toque.