RASGA-SE O ESPELHO -Poema 1200 –

Este livro que agora findo começou por uma declaração de amor que tal como a amizade se desvaneceu no tempo que clarifica tudo. No entanto, e apesar de ser um livro essencialmente de poemas de amor e de ter outros pelo meio de outra temática, ao acabá-lo teria forçosamente de voltar ao ponto de partida, ao Amor, agora não dirigido ao presente, um Amor intemporal e se calhar futuro.

Foi um livro difícil pois muita coisa se passou nestes 6 meses e 100 poemas, foi o livro que mais me custou a fazer, sendo natural que por agora descanse e me dedique a outros projectos literários mais prementes.

Ficam pois os sentimentos e o amor, nada mais, pois a vida está ali ao virar da esquina, e se a Eternidade pode esperar por nós, a vida não, vamos por isso aproveitá-la da melhor maneira, sorrir e sobretudo nunca deixarmos de tentar sermos felizes sem parar de sonhar, pois ensinaram-me os milénios de existência, isso é o mais importante que há

RASGA-SE O ESPELHO

-Poema 1200 –

Parte-se o véu

Rasga-se o espelho

Desvanece a realidade

Ganha o corpo o sonho

De um outro lugar

Onde hei-de

Com alguém ficar

Rasga-se o espelho

E não consigo ver a minha imagem

Só nos seus farrapos brilhantes

Que juntos aleatoriamente

Servem-me de oráculo

E me dizem

Que já nada será como dantes

Rasga-se o espelho

Secam as lágrimas

Com as quais reguei

Os meus campos

De infinita ternura

Esperando agora

Para que deles brotem

A promessa

De algo que possa ser perene

Do juramento

Dum objecto anímico que mexa comigo

Algo que desejo que fique

Que não morra à nascença

Que perdura

Rasga-se o espelho

E eu fechei as janelas

Da mais pura sensação

E abri a clarabóia dos sonhos

Desejando um outro corpo

Uma outra presença

Redes que lanço ao meu mar de afectos

E capturo

O ideal que me serve de tecto

E que me faz acreditar

Para nunca

Jamais

Parar de lutar

Pois se já te amo

Antes de te conhecer

Nesse diáfano futuro

Onde o céu tem as cores do nosso amor

E as estrelas de uma paixão eterna

Acredito que estarás comigo

E já te sinto

Imanente

E transcendente

A meu redor

Nessa força portentosa

Que apesar das feridas

E das dores

Me faz sentir sempre jovem

E nunca velho

A eternidade de facto existe

E talvez por isso…

Rasga-se o espelho…