Poema de amor
Poema de amor
Imaginei um belo poema
cuja rima de minha pena
agasalhasse a candura do amor
e fragrância de uma flor.
Um poema fascinante, risonho,
que fosse morno e colorido
e delicadamente harmonizasse
as doçuras do sonho –
o amor bem-sucedido.
Mas minha caneta tem tinta de sangue,
de lágrimas, acidez e desesperança,
e o poema abortou monocromático,
impetuoso, descrente e dramático,
soma de um pensamento cru,
pontiaguda lança
fincada no peito nu.
É um poema inquietante,
a voz de alguém sofrido,
é a dor de tanta gente
de quem o amor é só desgosto,
é a verdade de quem se sente
sem um mísero abrigo;
é a ruga vincada no rosto, retrato de crueldade
da mulher que, insensata, permitiu
que ele perecesse de gélida saudade.
Mas eu imaginei um belo poema
Em que o puro amor e o aroma da flor fossem tema.