AS LINHAS DA CALCINHA
AS LINHAS DA CALCINHA
Marília L. Paixão
Lá fora corre a brisa
Troquei a calcinha
Estava molhada e nem chovia
Sequer estava no varal
Culpa da carne
Do açúcar
E do sal
Que nunca sei onde está
... meu amor.
Também não vou lhe mostrar essa nova calcinha
Que é para você não molhar como fez com a outra
Que onde moram as outras você também mora
Que onde guardo as outras, também lhe guardo
Existem amores que não são de carnavais
Existem dores e Dolores das marchinhas
E outros maravilhosos odores compartilhados
Como em dança de um único par
Existe céu de nuvens, rio e mar
Três palavras que adoro escrever
Como o tanto que amo você
Mesmo sem molhar a calcinha que vejo linda por essas linhas
Já imaginou uma rua de calcinhas molhadas
Por sua presença amada?
Já imaginou um céu de braços lindos como os seus?
Já imaginou sua fronte serena e branca gotejando sobre a fronha?
E eu?
O que seria de mim sob seus braços?
Sob seu corpo tão tranquilamente sul e norte
Adorando ser dono do meu?
E eu?
Sobre seu corpo tranquilamente forte
Sobre seus braços estupidamente tranqüilos
Adorando me fazer passar por dona sua?
É...sobra uma calcinha toda pura
De mim e você
Sobra um poema por fazer e refazer
Enquanto ela tenta nos escrever por essas linhas.