Madrugada
Mergulho em um oceano turvo, de um azul dourado da cor do céu
Refratado nos olhos virgens de cores claras, luz do sol e fel.
Estendo meus braços, mas são curtos demais para alcançá-la
Aumento meus passos mas não consigo acompanha-la
Será que ela ainda lembra do que eu disse?
Quando ainda estávamos perdidos, doentes, em uma noite triste
Quando ainda estávamos estendidos, dementes, no gramado verde macio
Iludidos pela possibilidade de luz no vazio
Quando restávamos, abandonados, em um triste breu
Quando padecíamos, molhados de água e sangue
Quando esperávamos, cansados, por alguma ajuda
Quando acreditávamos, errados, em palavras mudas,
Gestos vagos,
Olhares simples,
Verdades falsas,
Beijos cegos,
Abraços largos,
Amores nulos.
Rodo o mundo, mas nunca lhe acho
Abandono tudo, mas nunca lhe esqueço
Abro os olhos, mas nunca lhe enxergo
Escrevo uma carta: “Um dia te vejo”
Invento desculpas patéticas pra não te procurar;
Mas crio crenças estúpidas pra te conquistar
E sempre te vejo, em sonho.
Ou a materializo, num beijo.
Perco-me num labirinto de flores sujas
De todos os dias perdidos pensando em você
Durante a madrugada, no jardim, vislumbro a rua
O céu começa a clarear, é o amanhecer.
Por que você não sai do meu pensamento?
Por que não te esqueço por um só momento?
Por que não consigo dizer que te amo?
Por que não consigo explicar porque te quero tanto?
Tantos porquês, e sem resposta.
E tantos versos indefinidos.
Tantas palavras, tantas estrofes
Que sem você, não tem mais vida.
A claridade já me cega os olhos,
Mas a você não faz enxergar,
Nem por um segundo,
Nem por um instante,
Apaixonado vou ver o mar.
Mas até o mar sem você parece estar morto,
As ondas quebram com pouca força contra as rochas
Num santuário, a beira-mar
Penso em você
Quero você
Vejo você
Lembro você
Amo você.
E me impressiono.
E me pego pensando.
O que é o amor?
Somos tão jovens.
E se isso tudo não faz sentido?
E se isso tudo é um absurdo?
E se isso tudo é só mentira?
Esqueço o mundo, acabou tudo.