A volta

De longe, voltei.

Voltei porque mais ficar não pude.

Aqui, neste canto escondido,

Pode a lágrima rolar, se presa.

Sem pressa, molhada

Do aceno, roubei o riso.

Um flerte, confesso, corrompido.

Mas o riso de que o flerte

É bem mais que riso, é encanto.

Voltei pras dores curar

das feridas que em mim haviam

Do pranto, lamento triste,

Com bálsamo do amor perdido

Nada sei – nem se há cura!

Nada espero – que loucura!

Se volto, é porque quero

Amar de quem o riso – espero

Mas se volto, nem amar sincero

Posso da flor esperar

Voltei, sim, como fui:

sem lua, nem estrela.

Mas com dor, com pranto.

Amargura

Se volto, é porque

espinho tenho na carne.

Que consome, que dilacera,

que de mim faz escárnio.

Mas há o aceno, o riso

que ungir a mim podem.

Porque onde estava

Ficar não podia – doía!

Agora, o céu me resta.

Pra onde olhar irei.

Voltei por amar,

Mas, bem sei, voltar não podia.

David Silva
Enviado por David Silva em 03/05/2008
Reeditado em 03/05/2008
Código do texto: T972639