ADEUS DAS ÁGUAS

Despeço-me de ti

Mar que chora

Choramos...

Punhado de lágrimas

Escorrem dentro de nós

Tesouros guardados, mistérios

Ancoras que nos feriram

As luas afogadas por grande amor

Sóis quentes encharcando com fitas raios

Abraços, laços no cais, ais

Descortinadas manhãs, estrela salina

Conchinhas meninas, púrpuras pequeninas

Algas, daninhas na escuridão,

Cordas, amarras do meu viver

Correntes, elos enferrujados no limbo

Asteróides imersos, filhos da Luz

As secretas virgens, pássaros caídos

Sereias, mulheres, as metades que fui

Areias resvaladas, cicatrizes bronzes

Pérolas, amigos na concha do coração

Escamadas virtudes, óleo da vida

Atracado amor, navegante

Anzol de pão, beijo

Gozadas espumas, espasmos

Ondas frenéticas, salivas em cio

Ah! Amor!

Gritos de socorro, turbilhão de pecados

Roseiras negras, bosques líquidos

Cama de nossos suores seculares

Pingos de água, colares de lágrima,

Pétalas flor

Marés tantas, tempo tanto

Monstro sagrado

Balde a diluir castelos

Do velho homem do mar

Único anel meu mergulhado

Umbral, rochas e rochedos

Continuarás a chorar

Terra voraz por nós, de mim

Vazia, caminho seco

Soltando-me

Sede... sede...

Princípio e fim

Continuarás a chorar

Despeço-me de ti

Cíntia Thomé

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 27/04/2008
Reeditado em 27/04/2008
Código do texto: T964352
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.