ADEUS DAS ÁGUAS
Despeço-me de ti
Mar que chora
Choramos...
Punhado de lágrimas
Escorrem dentro de nós
Tesouros guardados, mistérios
Ancoras que nos feriram
As luas afogadas por grande amor
Sóis quentes encharcando com fitas raios
Abraços, laços no cais, ais
Descortinadas manhãs, estrela salina
Conchinhas meninas, púrpuras pequeninas
Algas, daninhas na escuridão,
Cordas, amarras do meu viver
Correntes, elos enferrujados no limbo
Asteróides imersos, filhos da Luz
As secretas virgens, pássaros caídos
Sereias, mulheres, as metades que fui
Areias resvaladas, cicatrizes bronzes
Pérolas, amigos na concha do coração
Escamadas virtudes, óleo da vida
Atracado amor, navegante
Anzol de pão, beijo
Gozadas espumas, espasmos
Ondas frenéticas, salivas em cio
Ah! Amor!
Gritos de socorro, turbilhão de pecados
Roseiras negras, bosques líquidos
Cama de nossos suores seculares
Pingos de água, colares de lágrima,
Pétalas flor
Marés tantas, tempo tanto
Monstro sagrado
Balde a diluir castelos
Do velho homem do mar
Único anel meu mergulhado
Umbral, rochas e rochedos
Continuarás a chorar
Terra voraz por nós, de mim
Vazia, caminho seco
Soltando-me
Sede... sede...
Princípio e fim
Continuarás a chorar
Despeço-me de ti
Cíntia Thomé