LAPSOS...

De vez em quando eu tenho essas longas paradas...

Lapsos de espera...

E fico assim, sem pensar,

Tentando entrar no nada,

E assim,

Apagar em mim as lembranças...

Passa o tempo...

Dias vazios, perdidos no tédio,

Da insolidez, desconexão...

Então, de repente,

Começo a escrever.

E falo de campos,

Crianças, jardins,

Esperanças e luas,

Naves que vão,

Homens que vem

Adejar sobre a terra

Nos discos dos céus...

E penso, e escrevo,

E sonho, e acordo

E torno a dormir

Em véu nacarado

De pura magia

E doida esperança...

E vem tua lembrança

Com rastro divino,

Na poça de lama,

Em raio de sol,

Na fraude do adulto,

Em poeira de céu,

De estrela e de lua...

E eu sinto-me nua...

E vem, e é tão forte,

Que em tudo aparece,

Na mágica prece,

Na estrela a sorrir.

E vem, sim, trazendo

A cor dos teus olhos

Carvalhos antigos

Em terna meiguice...

E vem os teus lábios

Em doce veludo...

E vem tuas mãos

Em suaves carinhos...

E vem teu cabelo

De ouro tão puro

Ou de cobre antigo

Iluminar meu redor

Com fios de prata...

E nessa aquarela

De cores alegres

Vem-me a alegria...

Mas eu teimo em chorar...

Por que estou chorando

Ao ver coisas belas?...

Magoado me vem

O suspiro que traz

A mágoa intensa

Do fundo do rio...

E tanta beleza

Confrange-me o pranto

E então, eu canto,

E em doce Acalanto

Transformo a Elegia...

Eu vivo a distância

E vivo à distância...

A lembrança é suave.

A lágrima seca...

A canção colorida

Se esbalde, vibrando,

E grita ao céu:

– Sou alma perdida

Vagando ao léu...

Depois... o silêncio.

Procuro o nada.

Perdi-me de mim

Naquele momento

Que se fez despedida,

E senti-me traída...

Eu sou mausoléu...

Mármore puro

Em pedra esculpida

Por mãos de artista

Que despe-me os véus.

Onde estou?...

Quem sou eu?...

Onde estás?...

Quem és tu?...

Quem...

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ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 26/04/2008
Reeditado em 26/04/2008
Código do texto: T962244
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