Dormir... Ou acordar??/Paredes mortas...

Adormeci lentamente...

Ouvindo o tilintar doce da chuva...

Daquela chuva doce e fria

Que caia do céu...

Dormi horas a fio.

– Eu queria despertar?...

Sonhei estrelas peroladas...

Com príncipes e dragões...

Ouvi vozes vindo aladas

Encantar ouvidos meus...

Eu vi duendes e fadas

Colhendo sorrisos teus

E ofertando, em nacaradas

Taças de puro cristal

O vinho suave do beijo

De um amor que é só meu...

Eu fui tão feliz no sonho,

Tu vinhas a mim, risonho,

Dizendo-me: – Eu sou teu!...

– Por que haveria eu

De querer despertar?...

Mas... senti um beijo frio:

– Seria a Morte a me beijar?...

Mas não conseguiu me assustar!

(Apenas conseguiu me acordar!...)

Eu queria tanto continuar: dormir,

Sentir a leveza mui doce

De ser tão plena e feliz...

Mas o sono foi embora,

E eu olhei ao redor:

Minha cama está vazia

O teu lugar ainda tem

A lembrança que me vem

De tempos, que tive um dia!...

Percebi,

Olhando todas as portas,

Que a casa é muito fria

Embora seja Primavera...

As paredes estão mortas,

Frias da tua ausência,

Que era doçura e calor!...

(Tu, só tu, nos aquecias,

Com a chegada, meu amor...)

Então senti

Como paredes e janelas,

Estivessem todas mortas...

Amortalhadas e frias:

– Como tuas poesias

Que hoje me são tão vazias...

Paredes mortas parecem

Zombar da minha tristeza

E, em toda a sua crueza,

Parecem caçoar de mim...

Lágrimas descem suavemente pelo rosto...

Parece que as mortas

E frias paredes

Gargalham jocosas

Tecendo mil redes

De fel, em meu rosto,

Trazendo-me o gosto

Da idéia-saudade

Que não sai, junto ao rosto

Que se faz solidão...

– Quero dormir outra vez!!...

– Mas um lindo dia se fez!...

Resquícios de chuva

Me olham dizendo:

– Tira teu luto

e segue vivendo!...

Teu sonho é horrendo!...

Transmuda o desgosto;

A vida é tão bela!...

Na roseira, uma flor,

Um pequeno botão...

Far-se-á beleza

Aquilo que é broto...

Paredes tão e frias,

E mortas, jocosas,

Assumem mil cores

De doce arco-íris...

Aquecem-me, acolhem-me...

A alegria se faz

Senhora de mim...

– Haverá a bonança?

– Se houver Esperança!

Então...

Promessas sem fim

Ressurgem, renascem!

Alegria me alcança

E torno-me, enfim,

Eterno sorriso,

Que antecede ao riso

Da vida-esperança

Que está junto a mim!

Então eu percebo

Que a alegria,

Ou felicidade,

E também seus opostos,

Não dependem de fora:

Estão dentro em mim...

Foi bom ter dormido

Dormido e sonhado...

Mas, melhor ainda,

Foi ter acordado!...

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ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 23/04/2008
Código do texto: T958915
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