Deixei meu perfume...

A beira do riacho, meu pensamento vaga entre a correnteza, o ar fresco da mata, refrigério para minha alma, no cantar dos pássaros elevo meu murmúrio ao longe e ninguém responde.

Ecoa ao vento o grito da minha saudade, o perfume das flores do campo, a terra vermelha, o balanço dos trigais, já não vejo mais, apenas o meu pensamento corre atrás da nostalgia.

Atraso o relógio do tempo, por um momento e cristalizo meus sentimentos, ainda sinto o gosto de hortelã, o cheiro adocicado das macieiras, pitangueiras pipocadas de frutas vermelhas.

Deixei meu perfume vagar entre campos que ficaram para trás, colhi flores de laranjeiras e adornei os cabelos longos, nos olhos rios de lágrimas perdidas no infinito.

Ouço o cantarolar de cantigas de roda, vestes esvoaçastes, sorrisos de meninas, calcei as sapatilhas, na leveza do gesto, menina-mulher descobrindo a vida, diante do espelho.

A fragrância transvasou no ar, o tempo não consegue apagar, vou tecendo memórias...

Escrito em 14.11.2005.

Por Águida Hettwer