Cristais de um martírio puro (T.V)
Houve um momento que cintilou em minha alma
Desejo de amar alguém.
Nunca questionei as razões que solucionam
As mágoas dos corações,
Mas resolvi abandonar-me
E entregar-me, quem sabe assim,
A uma solução que é deveras comum a quase todos os homens;
Caminhei distante assim...
Meus passos, como que com velhos laços,
Não souberam caminhar sem mim (não era meu eu que ia por esse caminho).
Por caminharem e não deixarem pegadas
Em um dado momento eu parei, e gritei:
Deixem me passar poetas e sonhadores;
Deixe-me ser alheio a tudo isso!
Como se uma prerrogativa de um não sonhador -
Que constantemente sonha – valesse.
Mas não, nada pode ser completamente alheio aos sentimentos
Ainda que a mais pura razão.
Nesse intento, conheci um eu meu que era maior que eu
(E como ser maior que eu se está dentro de mim?)
Não sou eu novamente quem irá responder essa questão metafísica, posta no ar.
Mas ser maior não implica necessariamente em ser um verdadeiro eu,
Porque a concepção de maioridade é imposta;
Queriam que eu pensasse assim:
"Sê grande, ó Tenório, Sê grande..."
Mas ser grande e fugir de mim é não ser eu
E ninguém pode ser suficientemente grande fora de si.
Voltei a mim, depois de certo tempo,
E levei todas essas considerações como um sonho,
Daqueles belos sonhos, que ao acordar se apagam
(Sonhar de verdade é não lembrar o que se sonhou,
Pois assim pode-se sonhar novamente, e tornar cem vezes magnífico o que com o tempo vira simplesmente belo).
Conclui: não posso amar cabalmente o que não pode ser amado.
A bela moça saiu pela porta (sem deixar vestígios).
Voltei a mim assim.
Cristais que reluzem não são perfeitamente puros,
Ainda que fisicamente impossível, podem ser ocos
E resplandecer pela face não é necessariamente morrer por si,
Pois só morre por si quem esconde em seu interior um verdadeiro coração.