Rico Ventre Puro
Rico ventre que jamais me parirá
Seios opulentos que na paz alento
Brancas frases de graça, pelas quais sou servil
Boca encantante onde ressoa a manhã
Ri nesta sorte que propõe que amemos
Pássaros e graças – e que é ninho de delícias
Dança o paraíso debutante em bom momento
Encerrando no busto o balanço de versos nus
Pousadas, reposteiros, alcovas de confessos sangues,
Macias coxas infantes, porém cheias de maré
Que te assustas com o ato novo e ardente
E rebrilhas deslumbrada em tua secreta cama
Ao som murmurante das desveladas entregas
Flutuas semelhante aos hinos que alvorecem
Tal como o apreço das noivas flagrantes
Menina amanhecida aos ecos da cadência nua
Rica boca pura, de carnalidades inocente,
Que do ventre fecundo palpitante estua.
As rosas da manhã ofertam carnais segredos
Despidas da marca dos orgasmos antigos
Estremecimentos deliciam delirantemente castos
O conhecido desconhecido ante o qual tem medos
Move rios e abraça montes a pura graça
Esquecida, desdenhada da volúpia e da desgraça
Para lembrar-me de ti sempre estremecimentos brandos
Aflorarão o suave recesso das memórias
Entre gozos de paz ou crus ressentimentos miserandos
Lembrar-me da pureza imácula a pétala de glórias
E ao som da lua quebrada nos riachos
Amar amores novos sob os teus mais baixos
Emana do teu reino azul flores formosas
Ensaia o gesto de pudor das margaridas
Para o sábio Mefistófeles transfeito em faustos
Rico Ventre, retardemos a hora da partida,
Que após a arca dos gozos entreabrir mil mundos
Faz a alma nobre e a terra humana apetecida.
06/08/1999