BALADA da MADRUGADA

Estou certo do que busco

e não volto atrás

Enrosco os pés nos cipós de fogo dos delírios

ficou o sol além dos arquivos

quero a companhia da madrugada

e dos exageros, soltos os pássaros da cólera

Enfio nos bolsos polvos e luas-fraturadas

alheio ao passado

oferto as flores da minha carne baleada

pois só quero viver no limite

arranco a alma com saca-rolha

ponho fogo no céu da boca e mato os beijos

é o fim dos anjos ninfomaníacos que cravam setas na orgia

rosnados revoltosos do motor

Porém, na madrugada levanto da cova

- do telhado vibro a voz

ecoando nas crateras do lado escuro da lua

aonde as fogueiras provam: quem ama

procura o deserto,

sim, o olho vazado do mendigo ficou azul

para dizer: o céu não me quer por perto

mas é da minha sina: chego de surpresa

carregando guerras e saudades loucas na bagagem

como um tigre molhando o silêncio

no olho da caçada