SINTO-ME ESTRANHA...
É estranho sentir-me uma “estranha”
Como pássaro só, em ninho alheio!...
De repente, e muito de repente,
Senti-me “problema” e não a “solução!”
Ser enxotada, expulsa, como intrusa,
Como “ladra da paz” a um coração...
É um jeito estranho de amar... É falsidade?
Condenação a não ter identidade,
No escuro, na sombra, no cinzento...
Em agruras, receber tanta maldade,
E impropérios de “quem têm” e “não deseja”,
E quer apenas “possuir” e “dominar”?...
Alguém que desvaloriza e atrapalha
Outro alguém que nasceu para brilhar?...
“É meu! É meu!” – Pode alguém ter dono?...
Amar é cobrar “obrigação”?
Amar é “amarrar”, levar a vida
Condenando o amor à eterna solidão?
É estranho... esse “amor” eu não conheço!
Nem é amor: é só dominação!
É orgulho, desamor, condenação...
Ardeu-me o rosto... Palavras agressivas,
Injuriosas, cheias de veneno,
E até mesmo de baixo calão,
Tive de ouvir e chorar no coração...
Desvirtuar um amor que é sacrossanto
Comparando-o ao sentimento mais vulgar
De uma atração mesquinha, leviana...
Oh, Senhor! Isto é que é pecar!...
Nesta estranheza do que fui julgada
Sinto esvair-se a vida... Imaculada
Pelo amor que é puro e santifica...
Senti-me posta no chão e machucada...
Alguém que ama, não faz o outro sofrer...
Quando se ama se procura compreender
E jamais se impede o outro de viver...
E aqui estou no escuro, a amar,
Ter que esconder
O amor que faz a vida renascer
Em cada luz colorida da manhã...
Se, a cada instante, há um “novo amanhecer!”...
Pode ser meio-dia ou ser de tarde,
O sol se põe, mas sempre se renasce,
Não somos prisioneiros do sofrer!
A luz não vem para que se a deva esconder!
E estar vivo é o contrário de morrer!
É estranho chorar com um sorriso
E a lágrima, teimosa, esconder
Para evitar que um inocente vá sofrer!...
Ser humilhada...e, por amor, não responder,
Porque esse amor é tudo, é o bem-querer!
Vale a pena calar... e até sofrer...
Vale a pena calar... e até morrer...
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(Escrito em uma viagem, há muito tempo, enquanto chorava dentro de um carro em movimento...)