AMOR NA NOITE QUE TE CHAMA

Dormes combalida

Na noite que te chama

Dissolvida em água,

Suada,

Apenas linda

Estirada à cama

Sorris apagada...

Sonhos febris

(Espero que sim!)

Contam tua jornada

Se sei que vives

É porque suspiras,

Mais nada

Intuo que tens fome

Não de comida,

Mas de vida acordada

Teus braços tremem

Devaneios te engolem

Reviras-te agoniada

Das realidades que somem

Destas últimas,

Bem que pareces saciada...

Nos raros intervalos de vigília

Encontras-me parvo,

Sorrindo ao largo, vigiando-te,

Abrandado, afagado,

Neste instante, por ti, salvo

Ao ver-te finalmente desperta

Meu coração pesaroso

Altera de pronto os compassos

Badaleja resolvido,

Abafado, amorfo

Sempre perdoa

De bobo que é

Teu sonífero abandono

Por que trocas resoluta

Meu largo colo,

Meus ombros calmos,

Minha fala astuta?

Achas-te melhor acompanhada

De uma narcotizada cama?

Que te prende aos estrados

Em lençóis de força bruta?

Cerras de novo

Os olhos alquebrados

Dos cansaços da ilusão

De que estes esforços,

Destes teus trabalhos,

Um dia lá, que seja,

Felicidade trarão...

Por hora sono só

Ninam em teu peito

Nossa sonâmbula paixão...

Fissura que viaja perdida...

Embala-te em vagão-leito

Pelos trilhos desta vida

Descanso um pouco

Pousado em teus olhos atados,

Inteiramente acorrentados

Às palpebradas cortinas

Pairam aos ares

Os alentos perfumados

De teus excêntricos cheiros...

Entorpecendo os lugares

Em que tua fantasia,

Prostrada, se aninha

Sigo indormido,

Forrando desejos ao colchão,

Como fosse dinheiro...

Economizo até de mim

Os reprimidos abraços

Deste amor camareiro

Gê Muniz
Enviado por Gê Muniz em 11/04/2008
Reeditado em 11/04/2008
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