"Incomoda-me o fato de estar a conversar com alguém que jamais irei ver; alguém que deve ser como um sonho que acaba ao amanhecer do dia, incomoda-me o quanto ponho de mim no que lhe escrevo..."
NA PALMA DA MINHA MÃO
Você existia pra mim como
mágica,
um ser além da humana forma,
mão forte
sorriso suave
aconchego
ternura de menino...
e a vida podia terminar
num momento,
se nele estivesse
em teus braços...
...é esse o sentido do amor?
Mas a vida é mudança,
somos outros agora.
Ah aquela história...
as mesmas margens...
Somos o mesmo rio, mas outras águas.
Águas envolventes, cariciosas,
águas mansas fazendo meu corpo deslizar
sob um céu serenado,
águas de vida renovada a todo instante,
o mesmo pássaro em outra plumagem,
a mesma mão em outra personalidade,
os meus pés com novas marcas,
e muito caminho aberto à frente...
queria fugir a esta sina
de encantamento de Medusa.
nós dois cristalizados no Tempo,
vivendo pra sempre presos
a um infinito Nada.
e enfim tudo passa,
"como passa a mão e o rio
que lavaram teus cabelos"
mas antes disso queria teu beijo...
...queria um olhar teu, um só,
queria o teu cheiro no meu,
a minha casa na tua,
o meu barco no teu porto,
nossas solidões transfiguradas
e num único e supremo movimento
a eternidade de um instante
na palma de minha mão...