«A Bailarina»

A Bailarina

(A Sandra Machado)

Eis a viva expressão

De quem agarra a Vida

Por todos os fios possíveis

De um imaginário

Sempre reprodutivo…

Os seus acenos

Suaves

E determinados

Sobem

E descem…

Os seus paços

Leves

E silenciosos

Ascendem

E descendem

Erguem-se

Elevam-se

Multiplicam-se

Em todas as direcções…

Indicam-nos o infinito

Que nos apraz bem

Suspendem-nos a alma

Transportam-nos para outros lugares

Nunca imaginados…

São múltiplos os caminhos

Pela bailarina percorridos…

Entre outros estares

Entre outros rostos

Entre todos os rostos

Que nela se presentificam…

Os caminhos dos gestos

Das palavras

Dos sons

Que a envolvem

Num círculo

Quase perfeito…

Os caminhos das notas

Que a partitura preenchem

Tornam-se audíveis

Em todos as melodias

Pelo seu corpo contornadas…

Há sempre um som

Que a embala

Que a faz vibrar

Estremecer

Ou sonhar…

Por entre as linhas

Nem sempre unidas

Nem sempre definidas

Dos trilhos delgados

Do seu balancear…

O chamamento do som

Assoma

Que grande promessa!

O som puro

E cristalino

Da música

Semi-oculto

Semi-descoberto

Envolve

O corpo

E a alma

Da bailarina

Ainda capaz de o escutar…

A escuta

Naturalmente a escuta…

Qual motor originário do mundo

Que faz mover

Os seus delicados contornos…

Os seus movimentos

Mesmo os mais simples

Manifestam a pureza

De uma alma

A singeleza de um corpo

A nobreza de um carácter

Em momentos

De perpétua comunhão…

Qual corpo?

Qual alma?

Os da Bailarina

Fundidos

Se dão

A outros corpos

A outras almas

Nunca em vão…

A bailarina

Está aí

Dança

Balança

Rodopia

Ao tinir

De todos os acordes…

Faz renascer

Um ser outro

Sempre renovado…

Algures

Camuflado

No seio

Da sua própria interioridade…

Isabel Rosete

(Escrito para Sandra Machado, a bailarina)

1999

17/02/08