Vozes do Silêncio

Rosamundo e Isadora conversam com a alma.

Seus olhos traçam painéis de verbos altos

Seus rostos de lirismo calam, contemplando

Fascinados, crianças que descobrem a manhã.

Suas mãos desenham os mais sutis pensamentos

Detalhes do mundo já segredam os dedos

Em cada mínimo gesto mudo soa a lira

O violoncelo do silêncio os espaços já afaga.

Nesse estado de paixão, suspensa em contemplação

O contentamento retira as palavras da pauta

Embebem -se os braços num luar fora de órbita

E com castanholas rumorejam bocas

O doce sussurro alento dos hálitos cúmplices.

Sussurra o vento morno pelos céus propícios

Nascem as folhas das palmeiras amplas

Brotam as ramas nos outeiros apartados

Despontam flores num missal de gentilezas

O sol desce aos mares em seu corcel de fogo

As estrelas se enamoram no colar do firmamento

E, sentinela do amor, a lua mata o tempo,

Se insinua na alcova celeste e muda aguarda.

Vêm os amantes secretos, hinos sem voz,

Dentro do peito as órbitas infinitas,

Paz sideral muda, triunfo de sons enlaça:

Ampla esfera silenciosa, alcova de sangue

Por oceanos requebrados de gemidos.