VERSOS NEGROS...
Tantos há que escrevem versos brancos...
Ora, brancos! Por que “versos brancos?...”
Isto é discriminação!
Eu decidi escrever “versos negros”.
Poderia preferir faze-los cor de rosa,
Pintalgados de sonho,
Cintilantes de magia.
Mas... são meus os versos!
Vou fazê-los da cor do meu desejo.
Se meu desejo é negro
Porque faze-los brancos,
Por dourá-los suavemente
De rútilo arrebol?...
Meus versos são negros.
São meus, são verdadeiros e negros.
Qual o espaço que afasta a mim de ti,
Qual o vácuo que medeia meu coração do teu...
Da muralha de azeviche
Que me cerca a mim e a ti...
Da silueta recortada
Na sombra de teu olhar
Quando se velam teus olhos
Em falso negrume
Escondendo
O anseio
Que existe por mim
Em teu olhar!...
Meus versos são negros...
Negros da cor da noite,
Negros da cor do amor,
Negros, à espera do Amor...
Negros, como a beleza da dor...
Negros como o açoite
Negro...
Como são belos os negros!
Negros, como os Lanceiros,
Heróis da Revolução!
Negros... Heróis traídos,
Pela maldade e ambição
Dos brancos, dos sem-palavra,
Que mataram à traição!
Meus versos são para os negros,
Para os negros, meus irmãos!
Que confiaram nos brancos
E estes, cruéis, os fizeram
“Bucha para canhão!”
Traídos, meus irmãos negros
Inundaram esse chão
Com seu sangue derramado...
Mas não morreram em vão!
Porque, então, dizer “versos brancos,”
Se os meus versos são negros...
Orgulho de uma etnia
Que marcou de sangue este chão
Numa luta fratricida
De irmãos contra irmãos...
Porque dizer que meus versos
São versos brancos, então?...
... A tua alma foi uma gota de prata,
E a minha alma esqueceu a própria cor,
Apenas vislumbrada
Baçamente,
Na última chuva que não desceu à terra,
Como teu amor não regou o peito meu
Vindo do céu por teus olhos...
Meus versos são negros.
Como os negros, meus irmãos,
Traídos, como eu fui...
Regando a terra e o chão...
Tua alma foi de prata.
Vou cobrí-la de negro
E não a tirarão de ti.
...........................................