Visitando-te em tua escrivaninha

Fico muito contente por saber que seu escrever te convida para uma conversa. Sinto ciúmes, porém sei que gostas da companhia. O escrever te bate á porta pedindo para entrar. Sei que o receberás tão agradavelmente como me receberia em tua casa. Tenho certeza da delicada cortesia com que o acolhe em teus aposentos. Acomete-me os ciúmes, pois suspeito que o escrever toma-te as mãos como eu o faria, agora em que meus desejos banham-se de deleite com tua companhia. Penso em ti acompanhada de teu escrever, á sós, um para o outro em teu recanto de pensar. Imagino tua mão sendo acariciada pela vontade do escrever. Acaricia-te os dedos envolvendo-os no calor do prazer. Apalpa-lhe a palma como se em algodão branco e macio pisasse. Na ponta dos dedos a curva deliciosa da pele que o arremete de volta á delicada mão. Uma pele macia e lisa, morna dos sentimentos, suave da delicadeza, orvalhada dos pensamentos. Ah, como queria ser teu escrever. Pegar-te a mão acompanhando os caminhos de tuas escritas. Passeando pelas linhas do papel como estradas de uma viagem. Não te deixaria a inspiração adormecer para que o dia inteiro pudesse em tuas mãos ser passageiro. E quando ao destino chegasse, quando o ponto final despontasse entre nós, acalentaria tua mão repousando-a em tua escrivaninha, deixando-a descansar da jornada.