Te Direi
Um dia te direi
que meus olhos há muito têm sido teus
e que, ao acordar, tua silhueta, os perfeitos
contornos teus,
me vêm de mansinho à retina,
enobrecem meu espírito e me inspiram
para o dia que chega.
Um dia te direi
que tua ausência física é uma aflição,
que o teu toque, agora, me é
muito necessário.
Mas que, de certo, estás ancorado
no que considero a morada da substância:
estás no meu coração.
E que este é o princípio do meu amor por ti -
que devaneio de corpo nenhum poderá carregar,
levar para longe de nós.
Um dia saberás que te disseco,
que busco com precisão tua alma,
que me refaço todos os dias e percorro os melhores
trajetos para chegar até ti.
Te direi que és mais do que possas perceber,
mesmo quando as palavras nossas
parecem explicar tudo, parecem nos alumiar
com os sentidos mais lindos do mundo.
Te falarei dos anseios meus, das vicissitudes,
do quanto observo teus passos,
tuas palavras serenas.
Conhecerás minhas misérias, meu aconchego,
meus erros e acertos.
Saberás de mim o básico e o impossível;
o raro e o banal.
Um dia perceberás tua importância
nos meus princípios, as tuas possibilidades tantas
e vastas no meu espírito e no meu corpo.
Pois, sei, seremos a junção perfeita, exata
da matéria e do “além-físico”.
Saberás que te admiro porque és tanto...
tanto quanto mil linhas não pudessem explicar.
Um dia te direi que a alegria me chega fácil
na presença tua.
Ainda que não possa sossegar na tua pele,
perceber o cheiro, aguçar os sentidos...sinto-me
inteira tua.
E tua sou em devaneios, em razões, em tantas,
em tanto...como criatura elevada, como borboleta
que toca todos os cantos teus.
Certo dia saberás que o olhar meu em ti
é dissertativo. Vejo tua figura e percebo sentidos.
Mesmo que haja elipses, metáforas...serás sempre o mesmo.
Serás quem amo, indiscutivelmente, verborragicamente,
na forma mais radical da expressão “amar”.
Conhecerás demais minha devoção ao teu ser. O estar
isolada no bem-querer, vivendo sonhos,
alimentando quimeras várias.
Saberás que és o combustível de alguma eloqüência minha,
a cabana dos meus versos,
o veneno brando no meu sangue.
Verás, amor, que muito do melhor de mim
é conseqüência do que inspiras, é coisa que semeias.
A beleza que habita tua alma, em mim,
se transforma em pensamento, em ação, em
sentimento.
Um dia te direi que meu amor por ti
é sereno e, ao mesmo tempo, tempestade.
Em você, encontro o sabor que sempre busquei,
as palavras que imaginei, a beleza de todas as formas,
a certeza do sentido nobre de viver.
Saberás que tem um dom, que és um presente
para o mundo,
que sabes como muito poucos o real sentido de “ser”.
E direi, sem meias-verdades, que é certo
que amo amar-te,
que desejo saber-te sempre na minha
integridade, no que suponho ser bom e correto, no que
nos faz melhores a cada dia...
Adri Engelbart