Deserção
Hoje permite-me desertar
Manter as mãos suspensas
Sufocando as minhas dores
Aceita a minha omissão
Não me faças quaisquer perguntas
Nem as que tanto queres
Quando sou teu silêncio e estranheza
Não me peças que revele os versos
Que escrevi em tua ausência
Quando minhas mãos te esculpiram
Cúmplices do desvario de alguma saudade
Não ampares o meu dissabor
Nem cales o vento inclemente que me sibila
Acenando-me inquietudes e senões
Hoje não me fales das tuas ternuras
Nem da mansuetude dos teus olhares
Que são cores para meus olhos
Consente o meu breve abandono
Emudece o ardor do teu tato
Que te rouba carícias
Para tatuar a minha pele
Não acalentes a minha lágrima
É momento da tristeza rebelar-se
Esvaziando-me a calma, o sonho
Não me inquiras sobre as promessas
Nem sobre as juras que te fiz
Deixa-me ser arrimo da solidão
Colo da minha própria orfandade
©Fernanda Guimarães