Deserção

Hoje permite-me desertar

Manter as mãos suspensas

Sufocando as minhas dores

Aceita a minha omissão

Não me faças quaisquer perguntas

Nem as que tanto queres

Quando sou teu silêncio e estranheza

Não me peças que revele os versos

Que escrevi em tua ausência

Quando minhas mãos te esculpiram

Cúmplices do desvario de alguma saudade

Não ampares o meu dissabor

Nem cales o vento inclemente que me sibila

Acenando-me inquietudes e senões

Hoje não me fales das tuas ternuras

Nem da mansuetude dos teus olhares

Que são cores para meus olhos

Consente o meu breve abandono

Emudece o ardor do teu tato

Que te rouba carícias

Para tatuar a minha pele

Não acalentes a minha lágrima

É momento da tristeza rebelar-se

Esvaziando-me a calma, o sonho

Não me inquiras sobre as promessas

Nem sobre as juras que te fiz

Deixa-me ser arrimo da solidão

Colo da minha própria orfandade

©Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 24/03/2008
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T914070